15.7.01

Miami Vice

Salsa, camisas estampadas, correntes e dentes de ouro. Depois de caminhar toda Washington Road (toda cidade americana tem uma Washington Road, e uma Martin Luther Plaza) e virar na Ocean Drive eu e Lolita finalmente nos decidimos por esse bar com vista pro mar e um sujeito destilando perolas da latinidade brega em seu violão, o único americano lá era o barman, que custou a entender meu sotaque. E quando eu pedi os dois Daiquiris ele já foi pedindo as IDs, entreguei-lhe a Drivers Liscence da Lolita, que nasceu em 1979, enquanto o cara a analisava fazendo as contas eu coloquei a m&atile;o no bolso fingindo procurar a minha.

- That doesn't looks like you!!!
- Sure not! It's her!!!

O cara ficou tão sem graça que devolveu-me a ID e foi preparar os drinks (muito bem servidos diga-se de passagem).Easy! Easy! Here's the place tostay till get drunk. Acabamos bebendo dois drinks cada um, mas o sujeito só cobrou dois, ele explicou, mas não entendi porra nenhuma mas agradeci sorridente. Rumamos para Washinton Road, onde est˜o os clubs. Entramos primeiro num que era gratis, bem maneiro, mas que tava com as caixas estouradas, caimos fora e fomos parar no Tanja Club, onde só rola Hip Hop e por 15 dolares voce descola "Free Drinks". A mina da porta pediu os IDs, mostrei a da Lolita e fiquei procurando a minha, enquanto ela fazia as contas (neguinho aqui é muitoooo devagar! belive it!) eu lhe entreguei o dinheiro e ela colocou as fitinhas que davam direito a free drinks nos nossos pulsos, quando a gente ia entrando elapediu os IDs denovo, mostrei a ID da Lolita denovo e a mina nos liberou. Easy... Easy...

Que mas!? Bailamos, bailamos e bebemos pra cacete... Calculei que pra lucrar tinha que tomar pelo menos 4 drinks... acho que tomei 5!!! Me dei bemzao! O Club era maneiro, não muito cheio, mas com a maior mulherada e todo mundo muito animado, fazendo trenzinhos (sem horrorizar sirio darlan nenhum) dançando e fazendo sinais com as mãos, eu fazia o que aprendi com os chicanos lá em NY, onde no HipHop rolava muito break, aqui não tinha break. Mas tinha um sujeito de dente de ouro muito chapado que ficava me pedindo X toda hora! 100% Maleta.

Hoje de manhã Lolita me deixou pra ir fazer Yoga com um bando de Zen-budistas que não comem carne, não trepam, são carecas e adoram uma imagem gorda, mas tudo bem, fui me dessestressar na praia. Antigamente bastava atravessar a rua que em frente ao prédio da minha avó tinha uma clinica que tinha um estacionamento que dava acesso a praia. Acontece que aparte de Miami Beach onde eu estou é bem estreita, tem a marina de um lado e a praia do outro, e uma só avenida no meio, este prédio fica do lado da Marina, os prédios do lado da praia tem acesso a esta, e fora isso tem uns poucos acessos publicos bem distanciados. A saida dos prédios sempre dão nuns barrancos imundos, com um matagal de um lado, você caminha até estas pontezinhas que passam por cima dos matagals e chega na praia.

Acontece que demoliram a clinica e hoje em dia o que rola é um terreno baldio cercado, como estava sem saco de caminhar até uma das entradas publicas simplesmente pulei a porra do muro e parti pra praia. Os americanos são bem estupidos, e só ficam por perto das entradas publicas, onde armam suas barracas, fazem seus Picnics, soltam seus cachorros e crianças, enfim, fazem a porcalhada que lhes é peculiar (voce sabia que o estado de New York produz algumas toneladas de sujeira por semana, e por nao ter onde guarda-la pagam milhoes de dolares para estados proximos como a Virginia guardarem essas merdas todas??). Logo me dei bem, porque entrando por esse terreno baldio fui parar um trecho da praia completamente deserto, onde pude nadar e boiar tranquilamente por algumas horas até encher o saco.

Resolvi caminhar até a muvuca para ver se dava uma espiada naquelas yankes peitudas e pra saber onde a entrada publica dava, afinal eu poderia querer voltar a praia com a Lolita e ela talvez não tenha a disposicao de pular o muro. Bem perto da saida avistei estes tres figuras fumando um Blunt numa dessas pontezinhas que passam por cima do mato. Os tres usavam roupas largas de time de basquete, bandanas, correntes de ouro e se achavam bem malandros. Um deles era mais moreno e usava um cavanhaque, era meio que o porta voz dos outros, o cara que mandava, vamos chamálo de Latino. Os outros dois eram branquelos mas falavam como negros, eram bem retardados como prevee a média dos jovens norte-americanos, vamos chamálos de Eminems.

Primeiro perguntei onde era a saida mais proxima, depois perguntei onde eu podia descolar um fumo. Eles disseram que se eu tivesse com disposicao podia caminhar com eles ate a boca mais proxima, numa praca a uns sete quarteiroes. Let's Go. Lá fomos nós bebendo Malt Liquor e falando estupidezes. Lá em NY fiquei amigo de um trafica que era da Guiania e nos entupimos de Malt Liquor e Tacos, fumamos num parque as margens do East River no Lower East End, junto com seu amigo Nuevo Riquenho (que não falava espanhol, tinha 17 anos e atuava como um Beavis mais energico) e um Homeless, falando mal da policia e ouvindo Heavy Metal, foi como voltar ao Empório.

Mas estes caras eram muitoo otários, não paravam de fazer Raps ("Born and Raised in the Dade County") e perturbar as mulheres que passavam, o Latino era o unico um pouquinho (eu disse um pouquinho) mais ligado. Mas eu não curti os caras, mas resolvi continuar pra ver onde ia terminar. E terminou mal!

Quando finalmente fomos na praça o Latino me mostrou onde tavam os dealers, e me pediu o dinheiro, disse que tinha de ir sozinho pra não chamar atenção, não gostei nada disso mas otario que sou lhe passei os dez dolares e ele foi pra lá e eu fiquei esperando com um dos Eminems, pois outro acabou indo atrás. De longe pude ver que os traficas deram um role com o latino e o eminem e entraram no matagal que dava acesso a praia. O outro Eminem ficou bolado e fomos até um telefone pra ligar pro celular deles, logo voltou um dos Eminems dizendo que tava tudo OK, dai quando atravessamos a rua pra encontrar este cara que supostamente estava com o bagulho um falou alguma coisa pro outro e cada um correu pra um lado, me deixando desorientado no meio. Eu tava de chinelos, não dá pra correr de chinelos. Logo perdi um tempo tirando-os e resolvi correr atrás do Eminem que supostamente tinha o bagulho, que a esta altura já tava se metendo no mato que dava acesso a praia. Vendo que ele corrira rumo sul, mesma direção onde o latino tinha ido antes resolvi ser mais malandro que eles, continuei descendo pelo sul, pela rua mesmo, bem bem rapido até encontrar outra entrada, esperando surprende-los de frente. Acontecia que a esquerda dessa entrada tinha um mato fechado, só dava pra continuar descendo rumo ao rul, isso me deixou ainda mais feliz. Sai pra praia, andei um pouco pro norte até encontrar uma ponte que desse nesse dead end no mato fechado e de lá pude ver o Latino acendendo um Blunt com um negao cascudissimo e um terceiro eminem (nenhum dos outros dois anteriores).

Eles não me viram, portanto tratei de me aproximar sem fazer barulho e sem ser visto, me escondendo no mato, quando cheguei bem perto pude escutar que o latino tava contando pro negao que os seus dois amigos tinham dado uma volta num turista, mas sem avisar nada, que eles eram os maiores otários e... Foi ai que eu apareci, do meio do nada, andando tranquilamente de braços abertos e falando com um sorriso no canto da boca:

- Man!!! I'm totally disapointed with you!! Totally sad about your friends...

Os olhos do sujeito arregalaram, o negao, que de perto parecia mais cascudo ainda (com muitas tatuagens, cicatrizes e marra, mas sem chance alguma de assustar um sujeito do terceiromundo) ficou bolado, e olhou pro latino fazendo cara de puto. Ficou claro que tratava-se do chefe dos traficas. Contei-lhe que os moleques tinham roubado meus dez dolares, que eu tava muito disapontado, que eles não eram profissionais e sim crianças e que eles tavam fudidos se cruzassem comigo. Falei assim mesmo, num ingles claro e com um ou outro slang adiquirido em NY, sem medo nenhum mas tambem sem pose. O Cara me rolou o Blunt e comecou a revirar os bolsos. Me descolou mais um Blunt, pediu desculpas pelos moleques mas disse que eu dei mole, mas que eu "...gotta learn from your mistakes". Dai o sujeito com um guarda chuvas pontudo coçou a desenhar un grafite na areia. Estavamos num beco feito pelo mato que cresce na borda da praia, com o muro de uma contrução do lado, cheio de Tags e Pichaços. Agora era a vez de dar esporro no Latino.

- Man! I Trusted you!! I Gave you the money and now... what happened??? You got my Weed!?
- I gave it to the guy with the blue shirt... and he ran from you... I don't know where he is...
- Are them your buddies!?
- Yes they Are!
- So you better tell them that if i see them again, they better have some weed or money for me!!! But of course they would not be stupid enough to bee seen by me...

Os caras eram magrelos tudo bem... Eu podia arrasar os dois, e até os tres numa briga justa, é claro, um de cada vez... afinal não importa o que você é, e sim como você briga! E esses caras tinham pinta de ser sujeitos de muita garganta mas pouca ação. Perguntei ao negão o que significava o grafite.

- Nothing You can understand...

Não me intimidei e com o dedão do pé gravei um "C.V." na areia, do lado do grafite do chefão que disse para da proxima vez eu procurar ele, e me deu seu endereço e tudo. O Blunt acabou, e cada um partiu pro seu canto, eu pessoalmente fui caminhando pela praia, fumando o Blunt que o negão me descolou, muito puto, observando cada pier e cada banhista torcendo para encontrar com um dos Eminens dando mole...

Mas eles não são estupidos o suficiente pra aparecer na minha frente... Não o suficiente, e não hoje... Never Mind!

No mais, planejo derepente amanha comprar uma Bike, tem que se andar muito nesta porra de Miami Beach, se eu tiver uma Bike fica mais facil. Tenho de ir pra algum lugar revelar as ultimas fotos do LAMC e mandá-las pro pessoal da LA BANDA ELASTICA (a revista de rock en espanhol de maior circulacao nos EUA)que já compraram as fotos dos primeiros dias, para ilustrar a matéria de quatro páginas que eles vão publicar em agosto, e pagar em dolar. E é por isso que eu não me estresso, devo estar pagando o karma dos inumeros gringos que eu dei volta no Brasil (inclusive o Asian Dub Foundation)... Normal... "Gotta Learn from your mistakes"...

Nenhum comentário: