24.12.01

BOTAFOGO VALLEY

Trick Track Bum! Bum!
Tabajara, Santa Marta, Rocinha, mundo novo e o corcovado sufocando. Esse é o ritmo. Cazuza, Zaccaria, Carmem Miranda e o diabo repousando naquele cenário de muita fantasia e heresia. Grafitado do jeito que tá fica muito mais colorido, estético e convidativo do que aqueles nebulosos e cinzentos anos oitenta.

A praça amsterdã era um lugar legal. O edificio argentina era um lugar legal… Os parquinhos grafitados de hoje são muito mais legais. Falta brincadeira mas sobra capoeira. No muro do cemitério São João Baptista letras garrafais bradavam que "Lamarca vive e vencerá" e que é necessário "despertar o furor revolucionário da mulher proletária". Sábado chuvoso e alagado nostalga qualquer um.

A semana toda vêm sendo bem quente. Trinta!? Quarenta!? Onde vai parar!? Imagina a humanidade daqui a quarenta anos… A boa é pegar umas praiazinhas pra poder tirar uma onda.

- Alá! Alá Tio Maxx é mó caôzeiro! Disse que no século passado fritava com seus personagens sob o sol colorido de caraíva.

Têm tempo que eu não passo por um inverno. 2001 foi bem generoso, inagurado na praia de trancoso, testemunhando um nado libertário contra o sol, testemunhando união e fidelidade, entre amigos, hermanos, brothers. Trabalho pra caralho, trabalho sério mais sempre descaralhado, de maratonas históricas do rock in rio a putaria e quase vitória do res fest, da euforia sossegada e certa sobre tudo do abril pro rock às surubas das festas do consulado, o carinho de todo o panteão de sereias, chicas, uma fadinha exepcional, lolitas, preciosidades, gêmeazinhas, iemanjás e emílias.

Sempre quente. O calor das estradas sosegadas de Macéio, onde usar um boné do MSt é muito mais perigoso do que queimar qualquer tipo de mato. Os sotaques e sossegos de Recife. A jornada sem fim pelas matas alagadas da Amazônia, o calor despoporcional da Flórida, onde não sei por que caralho eles terraplanam a areia com tratores a manhã toda. Manhã!? Eu ia virado pra praia, minha gatinha tinha que trabajar e eu ficava fritando e fumando feito um beach boy, sempre arrumando uma confusão. Carioca é carioca em qualquer lugar, marrento é a puta que pariu.

O pior inverno da minha vida foi no oriente médio. Eu tava lá em Tel Aviv no pior inverno do século XX, a única vez que nevou em jerusálem no século, descemos até Eilat, com todo o visual do mar vermelho e os extintos pilares do rei salomão, que escalei, e do topo cliquei meus primeiros clicks. Na volta, o Mitsubichi lancer automático penou pra atravessar as estradas alagadas, que pra quem tá acostumado com o péssimo saneamento de botafogo valley parecia mais um dilúvio de dimensões biblicas, por sinal bem pertinho de onde mosiah sobreviveu com seu povo hebreu, repartindo as águas e afogando os egípcios. Babilônia cairá uma vez mais são as palavras do sábio Rastaman.

"Ronaldo, Ronaldo" eram as palavras os egípcios da ensolarada e babilônica new york, onde no central park, sob muito bronw paper bag e grass até um hondurenho me zoou (quem mandou sair com a camisa onze!?), Romário, Romário… O outro parace que tá com febre… Um piloto da TAM também me cumprimentou, piloto de profissão e doidão de carteirinha, aquelas figuras que aparecem do nada pra te provar de que o mundo é pequeno.

Marcando o céu com fumaça e fogo derrubaram as torres e o pentágono, surprendendo a todos os militaristas que nunca viveram um bombardeiro. Fudendo feito uma praga todos os diretores e publicitários peixes de merda que usaram e abusaram desse clhicê. Boa oportunidade pra repensar a lagoa, o cristo, bondinho e a baía de guanabara. Puta que pariu, que que sbobrou!? Ahn, os arcos e as favelas grafitadas são staylee do baylee… cartão postal dois mil e um.

Na abarrotada boate outro dia um loki disse-me que tinha descolado uma boa, ia passara umas semanas no México, ouvindo bom som e tentando ir atrás do Peyote. Lembrei-me da muchacha que conheci em NY e suas histórias de mescalito y ongos. Toda uma nação (que não precisa de bandeira ou fronteira, no minímo um CD) entorpecida e expandida. Manu me mandou um e-mail de ano novo cujas últimas frases reproduzo no fim do post, sem conseguir lembrar da graça, do rosto e muito menos do nome daquela muchacha da abarrotada boate. A tendência tio maxx, é esquentar, e piorar… piorar…

O século tendia a ser chato pra caralho, prova e reprova da utopia do primeiro mundo e do capitalismo ocidental. Ainda bem que um bonde de maluco apareceu aê pra dar um sacode e animar tudo isto.

...Proxima estacion felicidad....(dentro de lo que cabe...)
...proxima estacion......alegria....(que nunca falte)....

20.12.01

maxx e as estrelas

Enquanto o segundo nada mais é do que o primeiro dos perdedores, o quarto (defunto, quase alemão) é o campeão dos perdedores, the king of the losers. O Res Fest foi uma puta experiência, \palestras sobre avanços tecnológicos na indústria, curtas muito bons como o "Limpador de piscina do Bon Jovi" e umas tantas animações como as impecáveis japonesas "Blood The Last Vampire" (melhor fotografia de animação da história) e "Ken Ishi". Papo de nerd! Teve também o turntablism do Scratch, meu vídeo "Operação Free Jazz" duas emfumaçadas vezes na telona e muchas fiestas, ano que vêm a gente ganha.

Numa quarta ensolarada viajem de um fino ao aeroporto Santos Dumont (o pai da aviação, um sujeito macanudo que estacionava seu dirigível na porta dos cafés parisienses feito um personagem do Jules Verne) encontrar com o Cleyton, repórter da Clube, uma revistinha da Conrad direcionada para menores desvirtuados. Daí cruzamos a cidade até o Projac, aquele vasto complexo cenográfico das corporações Grobo, famosa por seus hormônios e dunas. Uma assessora de imprensa desenhada pelo Crumb levou-nos de Taxi até o Sitio do pica pau amarelo, há uns trinta minutos de lá, olhos recheados pelas arvores e curvas que nos conduziriam a terra da fantasia, aquela com abundância de vinho, mel e lolitas.

Chegando lá, logo dei de cara com um casting de anões e um fotógrafo de uma revista de paisagismo, meia dúzia de palavras e já estavamos nos associando para editar uma revista que seria algo entre a High Times e a Cañamo, no final da história ele tava pragujando contra todos esses filhos da puta que topam essa "saída de merda, abaixo do valor do sindicato". Felizmente a ótima assessora resgatou-me pra trabalhar, logo de cara conhecemos o Saci (personagem da nebulosa mitologia brasileira, um moleque fumeta e perneta proteje as matas e aterroriza geral, um driade sul-tropical, sei lá) usando uma meia-calça azul pra fazer um chroma-key e ficar sem perna, Rabicó, Burro Falante, Cuca e demais bichos não passam de pessoas fantasiadas com máscaras robotizadas que obedecem sinais de controle remoto para fazer as feições, dubladas por um terceiro loki.

Quando tava começando a achar essa parafernalha grobal toda chata pra caralho aparece o Gilmar (Gilmar?), o dublê do saci, um negão de uns trinta e blau, todo sarado e de uma perna só, ninguém menos do que o saci da série original (exibida de 78 a 85… eu acho). Quando reunimos os dois sacis, mergulhamos numa conversa que foi da importância do resgate à obra de monteiro lobato a relatos secretos sobre a sociedade criadora de sacis e a existência das sacias, "porque de dois sacis não sai nada!".

A Tia Anastácia desfilou ao nosso lado, carregando uma galinha e cantarolando (ela só qué, só pensa em namorá) e todos aquelas cercas vivas, arvores frutiferas e animais começavam a parecer ser um pouco mais do que construções. Aí veio a Emília.

Com sete anos, nunca mais que meio metro, carinha pintada, cabelinhos de pano e fama de faladeira a Emília não deu muita trela na entrevista, mas em seguida quando pedi para fotografá-la, correu até um monte de árvores frutiferas colhendo acerolas com a mão e devorando-as em seguida. Eu ia perguntar se era de verdade ou tratava-se de alguma invenção cenográfica do plim-plim (piri-prim-prim? Prém prém?), quando vi o saci (o coroa, o de verdade!) pulando de um pé só pra dentro dos arbustos e colhendo as melhores acerolas e devorando-as.

"Se o Saci e a Emília comem deve ser bom…"

Algumas frutinhas depois e a Emília dispara pra dentro dos arbustos, tive quase que rastejar para driblar alguns dos obstáculos sem destruílos, tarefa fácil para alguém de meio metro. Chegamos numa clareira iluminada por um faixo de luz que vinha de uma espécie de túnel natural recortado por entre os arbustos. Era uma luz linda e vibrante, que usei pra fazer vários clicks de Emília, revezando sorrisos sapecas com biquinhos inocentes. Ela não queria avançar mais por medo de cobras e eu estava certo de que avançando, em direção aquele faixo de luz, entrariamos numa espécie de terra do nunca ou país das maravilhas, onde seríamos felizes para sempre e aquelas frutinhas jamais seriam extintas.

Foi quando eu percebi que logo logo o diretor, sempre monitorando de dentro de um oculto iglu, iria gritar pela Emília, e abandonei-a no portal indo de encontro ao Pedrinho, o único menino que já conseguiu caçar um saci. Fã de Dragon Ball Z, Pokemon e essas porras, o perfil que a gente precisava pra revista, empolgado com fotografia e dono de um SNES velho (velho!???). Antes disso fiz uma foto do trio pra capa da revista, tudo em grande angular, numa onda bem mais Beastie Boys do que monteiro lobato, porque afinal o Pedrinho passa e-mail e a Cuca é fashion, Cool como cú de Cult.

Alguém precisa mesmo recontar essas porras, porque o doente terminal sempre recupera forças para os últimos sopros, quando a terra fica forte e tudo o que pode ser acaba sendo. Sobrando espaço só para os preparados, você está!? Alea Jacta Est! Que comecem os jogos!

13.12.01

S O N H O

Vivendo até de manhã, e dormindo a manhã, loco, embriagado e maconhado você viaja. Você não troca o dia pela noite, mas curte a noite e sonha o dia, e nos seus sonhos mais loucos tudo cai, você cai, a casa cai, parentes morrem, inimigos parecem invenciveis e putas das boas (daquelas que tu só cruza naqueles puteiros de nível, a 180 cada quarenta minutos) te lambuzam de mel e cobrem de elogios. E têm os sonhos de estratégia onde tua guerrilha toma posições de assalto por vários flancos, mas também salta feito super mario depois da folinha. Sonhos, sonhos, hey Mr. Gaiman bring me a dream, e ele riu, ele ria bastante, sagaz demais pra um brit, vai saber. Ontem conduzi um bonde a um beck - ele conhece o Gaiman, ele sabe das coisas. Peraê! Ontem!?

São três horas!? Alô!? Ahn, tá dormindo!? Que horas são!? Nove horas! Que que eu faço de pé a esta hora!? E pior… Como é que eu voltei pra casa!? Mas que merda! Ontem foi lindo, o Odeon celebrou um evento capitaneado pelo Chacal e sua cabeça-de-vaca (e não cabeza, aquele filhadaputa!) onde o som tava montado na pista, do lado de for a do cinema, drum'n'bass, miami bass, funk-buça e dub na caixa. Artistas de vanguarda embrulhados pra presente, hypes, chics, fudidos e coloridos dançando frenéticamente ao lado de toda classe de bandidagem e fuleragem do centro da cidade na madruga, paz, amor e aquelas coisas que só a cidade maravilhosa te proporciona!

Porra! Cadê minha câmera!? Clickográfo nunca tá satisfeto, é chato pra caralho! Deve ser por isso que eu não amo ninguém! Minto! Amo sim! Deve ser por isso que eu não namoro ninguém, melhor! Aquela jornalista tava lá, ela tava lá bicando as sessões da mostra e as muchachas na insana festa do consulado. Outras divindades do panteão tavam lá, essa mostra vai ser complicada. Argh, ressaca as nove da manhã, mas nada que padaria, água e maconha não resolvam, argh hoje eu vou beber! Oba! Hoje é festa, boca-libre, lançamento de festival, celebração. E agora maxx!? Manter a linha e o personagem!? Ou despirocar, arrasar,estruir!? O doidão se diverte mais, mas não come ninguém, mas quando come…