20.12.01

maxx e as estrelas

Enquanto o segundo nada mais é do que o primeiro dos perdedores, o quarto (defunto, quase alemão) é o campeão dos perdedores, the king of the losers. O Res Fest foi uma puta experiência, \palestras sobre avanços tecnológicos na indústria, curtas muito bons como o "Limpador de piscina do Bon Jovi" e umas tantas animações como as impecáveis japonesas "Blood The Last Vampire" (melhor fotografia de animação da história) e "Ken Ishi". Papo de nerd! Teve também o turntablism do Scratch, meu vídeo "Operação Free Jazz" duas emfumaçadas vezes na telona e muchas fiestas, ano que vêm a gente ganha.

Numa quarta ensolarada viajem de um fino ao aeroporto Santos Dumont (o pai da aviação, um sujeito macanudo que estacionava seu dirigível na porta dos cafés parisienses feito um personagem do Jules Verne) encontrar com o Cleyton, repórter da Clube, uma revistinha da Conrad direcionada para menores desvirtuados. Daí cruzamos a cidade até o Projac, aquele vasto complexo cenográfico das corporações Grobo, famosa por seus hormônios e dunas. Uma assessora de imprensa desenhada pelo Crumb levou-nos de Taxi até o Sitio do pica pau amarelo, há uns trinta minutos de lá, olhos recheados pelas arvores e curvas que nos conduziriam a terra da fantasia, aquela com abundância de vinho, mel e lolitas.

Chegando lá, logo dei de cara com um casting de anões e um fotógrafo de uma revista de paisagismo, meia dúzia de palavras e já estavamos nos associando para editar uma revista que seria algo entre a High Times e a Cañamo, no final da história ele tava pragujando contra todos esses filhos da puta que topam essa "saída de merda, abaixo do valor do sindicato". Felizmente a ótima assessora resgatou-me pra trabalhar, logo de cara conhecemos o Saci (personagem da nebulosa mitologia brasileira, um moleque fumeta e perneta proteje as matas e aterroriza geral, um driade sul-tropical, sei lá) usando uma meia-calça azul pra fazer um chroma-key e ficar sem perna, Rabicó, Burro Falante, Cuca e demais bichos não passam de pessoas fantasiadas com máscaras robotizadas que obedecem sinais de controle remoto para fazer as feições, dubladas por um terceiro loki.

Quando tava começando a achar essa parafernalha grobal toda chata pra caralho aparece o Gilmar (Gilmar?), o dublê do saci, um negão de uns trinta e blau, todo sarado e de uma perna só, ninguém menos do que o saci da série original (exibida de 78 a 85… eu acho). Quando reunimos os dois sacis, mergulhamos numa conversa que foi da importância do resgate à obra de monteiro lobato a relatos secretos sobre a sociedade criadora de sacis e a existência das sacias, "porque de dois sacis não sai nada!".

A Tia Anastácia desfilou ao nosso lado, carregando uma galinha e cantarolando (ela só qué, só pensa em namorá) e todos aquelas cercas vivas, arvores frutiferas e animais começavam a parecer ser um pouco mais do que construções. Aí veio a Emília.

Com sete anos, nunca mais que meio metro, carinha pintada, cabelinhos de pano e fama de faladeira a Emília não deu muita trela na entrevista, mas em seguida quando pedi para fotografá-la, correu até um monte de árvores frutiferas colhendo acerolas com a mão e devorando-as em seguida. Eu ia perguntar se era de verdade ou tratava-se de alguma invenção cenográfica do plim-plim (piri-prim-prim? Prém prém?), quando vi o saci (o coroa, o de verdade!) pulando de um pé só pra dentro dos arbustos e colhendo as melhores acerolas e devorando-as.

"Se o Saci e a Emília comem deve ser bom…"

Algumas frutinhas depois e a Emília dispara pra dentro dos arbustos, tive quase que rastejar para driblar alguns dos obstáculos sem destruílos, tarefa fácil para alguém de meio metro. Chegamos numa clareira iluminada por um faixo de luz que vinha de uma espécie de túnel natural recortado por entre os arbustos. Era uma luz linda e vibrante, que usei pra fazer vários clicks de Emília, revezando sorrisos sapecas com biquinhos inocentes. Ela não queria avançar mais por medo de cobras e eu estava certo de que avançando, em direção aquele faixo de luz, entrariamos numa espécie de terra do nunca ou país das maravilhas, onde seríamos felizes para sempre e aquelas frutinhas jamais seriam extintas.

Foi quando eu percebi que logo logo o diretor, sempre monitorando de dentro de um oculto iglu, iria gritar pela Emília, e abandonei-a no portal indo de encontro ao Pedrinho, o único menino que já conseguiu caçar um saci. Fã de Dragon Ball Z, Pokemon e essas porras, o perfil que a gente precisava pra revista, empolgado com fotografia e dono de um SNES velho (velho!???). Antes disso fiz uma foto do trio pra capa da revista, tudo em grande angular, numa onda bem mais Beastie Boys do que monteiro lobato, porque afinal o Pedrinho passa e-mail e a Cuca é fashion, Cool como cú de Cult.

Alguém precisa mesmo recontar essas porras, porque o doente terminal sempre recupera forças para os últimos sopros, quando a terra fica forte e tudo o que pode ser acaba sendo. Sobrando espaço só para os preparados, você está!? Alea Jacta Est! Que comecem os jogos!

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