30.4.02

O CLONE

Um compa em sampacity, antes de irmos curtir (curtir? Meu fígado estava pedindo arrego!) uma noite do que chamam de Abril Pro Rock em São Paulo me pergunta:

- Mas e aí mano!? Tu que já rodou por aí, qual o melhor bagulho do Brasil!?

Bicho, eu não sabia dizer até então. Em Manaus só dava pra achar merla ou pó na pista, descolamos um bagulho de folha muito ruim. No entanto, na festa rolava green as pampas, e um tal de soltinho da Guiana. Macío me decepcionou, cheguei numa época de vacas magras, onde os traficas vendiam beck de folha com melaço. Em Pernambuco invadi o pina até tombar num barraco onde rolava um Funk, perguntei pela massa e recebi as indicações. O Maloqueiro me levou até a porta da casa dele onde dava pra ver sua mãe cozinhando pela janela, as vielas eram super estreitas e fediam a merda, como um daqueles canais bem podres que cortam a cidade há algumas guadras de distância da gostosa praia de Boa Viagem. A mutuca: uma mão cheia de camarões magrinhos porém abudantes enrolada numa folha de caderno escolar por cinco reales. Tinha uns sessenta pila, todo mundo tinha crontíbuido porém peidado de ir. Recebi doze dolas, não tinha como colocar no bolso, o maloqueiro ofereceu-se para ajudar, juntando as dolas e socando-as até formar um cone e devolver-me dizendo na maior tranquilidade:

- Enfie no cú!

No rio uma vez eu tinha descolado um prensolto maneiro, no atacado. Foi uma época maneira. Contei pro cara sobre o bagulho que tinha descolado na gringa que cheirava muito bem, era verde-fluor e tinha textura foda, foda, mas o dealer assegurou de que era plantado na terra, sem nenhuma química.

Antes de ir pra sampa o Rio, depois de um verão de prensados ruins estava em seca. Assim que voltei fiquei sabendo que tinha uma fonte pau a pau. Ah! Pau a pau sempre vale a pena, mesmo que seja palha. O bagulho que chegou era de chorar.

Papo de Baguliex, aprovadissímo em buquê, aroma, textura, cor, gosto… Ah! E a onda… Social… Coisa de tirar do sério. E ra felicidade de todos, você sai na night e ela tá fedendo a esse fumo. Todo mundo pegou, tá rolando por toda parte… Tão chamando de O Clone, porque por aqui bagulho dessa qualidade só green-go. Será o advento do homegrown!? Será que o bagulho daqui pra frente vai ser assim!? Um amigo liga pra avisar, e diz que já tão crescendo o olho…

Ontem na maldita estavnao distribuindo Columys carimbadas com uma chamada para Marcha Mundial da Maconha 2002 que será realizada no dia 4 de Maio, a famosa “Million Maryjuana March”, no Rio ela se concentra as 15h na Praça Nossa Senhora da paz em Ipanema e Ruma ao Posto 9 protestando contra a guerra às drogas que arruina a vida de milhares de inocentes por todo o globo, além de promover a corrupção e o armamentismo.

26.4.02

A.20


No dia 10 de Abril de 2001 numa reunião o compa Miguel exaltadíssimo explicavá-mos qual era a do CMI, e dos preparativos para o A20 em Quebec – É um dia de Ação Global dos Povos, vai rolar também na Paulista e tou indo lá fazer um vídeo.

Eu já havia participado, aos desseseis anos, dos quebra-quebra contra a privatização da Companhia do Vale do Rio Doce. Lembro que o meu colégio reacionário não liberou ninguém, não tinha feito isso nem na época do Impeachment do Collor, puta festa open-ar que eu perdi, o grêmio do colegío tinha tradição em ser oba-oba e reacionário, puta classe-mérdia do centro antigo, fudidos mas acomodados e inofensivos. Na ocasião, matei aula com um colega e encontrei a pelegada da AMES no Largo do Machado de onde partimos para o centro, pulando a roleta do metrô, lógico. No trem uma mina gatinha do Amaro Cavalcante se ofereceu pra pintar minha cara, aceitei, fazer o que!? Mas foi de preto lógico. Encarei a passeata da Candelária à Bolsa de Valores (parando a porra do trânsito, lógico!) com um colega de sala, o único que como eu tinha matado aula para ir no ato, era um pedetista fanático, que curtia alimentar os pombos da cantina, assistir pornografia e fotografar-se nu, cortar o rosto das cópias e deixá-las dentro dos fichários das minas mais gatas e frescas da sala. Figura, hoje em dia estuda no IFCS e lamenta não ter sido aceito no exército pela miopia excessiva. Meu plano, quando chegasse à bolsa era me dispersar dos secundaristas e encontrar meus companheiros anarquistas e punks, afinal eu sabia que eles sim tavam preparado pra ação, de qualquer maneira, por via das dúvidas fui reunindo, junto com o colega-loki, pedras portuguesas da calçada e amarzenando em minha mochila de lona verde com @ estampado. Mal chegamos, os pelegos do carro de som, ligado à CUT e a partidália começaram a saudar a “chegada dos estudantes”. As palmas foram abafadas pelas bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo do batalhão de choque, que avançou com cassetadas pra cima da galera que trancava a rua sentada no chão. Os estudantes que acabavam de chegar arremesavam suas pedras portuguêsas e sacos de merda (isso mesmo) na polícia. Foi quando vi os punks descendo da câmara legislativa (totalmente ocupada) e atacando a polícia pelas costas com pequenas bombas caseiras. Os policiais dispersaram, abrindo a brecha para aqueles coroas ligados ao movimento operário partirem pro front e rebocarem os desnorteados canas com os punhos até recuarem, e quando o faziam o povo avançava e reciclava as pedras. Nunca vou me esquecer da prespectiva bizarrabizarra quando o asflato tremeu pelo impacto das “bombas de efeito moral”, uma espécie de super-cabeção-de-nêgo aparentemente sem estilhaço, também nunca vou esquecer daquele meganha travestido de robocop tomando uma pedra portuguesa na fuça. Eles haviam subestimado a gente, mas tinham isolado toda a praça em frente à bolsa de valores. Foi quando o protesto prossegiu com palavras de ordem e trotes, tipo ficar pertubando as reporteres da Rede Globo que tentavam fazer uma cobertura ao vivo e vomitar palavras de ordem para jornalistas, usando pseudônimos, claro. Depois de outros dias de confrontos conseguimos atrasar as transações em alguns dias, mas o bagulho acabou indo parar nas mãos do Antônio Ermírio. Menos mal!?

Naquela terça-feira eu saí do IFCS bem empolgado com esse papo de A20. Desde aquele dia no centro eu nunca tinha me envolvido em nenhuma outra manifestação muito grande, apenas algumas pequenas ações diretas executadas solitáriamente. Era uma época em que eu trabalhava pra caralho e me encontrava bastante revoltado. Quando chegava em casa, tinha de driblar a legião de viciados para poder produzir meus outros trampos, naquela época eu fazia bastante coisa pra BiZZ e também era escravo de uma corporação dotcômica. Um projeto tava terminando e eu consegui uma semana de folga, e também um convite para conhecer Alagoas e depois descer para Pernambuco e descolar uns trocos cobrindo o Abril Pro Rock pra BiZZ. Já tava seduzido de tempo, portanto no dia 20 de Abril, enquanto o coro comia em Quebec, São Paulo e Tijuana eu gozava da atmosfera adociada no meio de 15mil cabeças pulando com os shows da Nação Zumbi, O Rappa e o Asian Dub Foundation. Yuka falou bem para caralho, pena que não tinha minha mini-DV na época…

O Miguel acabou indo no A20 com dois compas e lá produziram o vídeo “Não começou em Seatlle, não vai acabar no Quebec”, que acabou virando prova num processo aberto contra a polícia de são paulo quanto a ilegalidade da repressão brutal e covarde contra os manifestantes. Um ano depois, vários grupos libertários de são paulo decidiram através de várias assembléias repetir o ato na Paulista, para tentar concluir o que a polícia não deixou ano passado, entregar no Banco Central da Consolação uma carta gigante endereçada ao Armínio Fraga com nossa mensagem de repúdio à ALCA, e finalmente exibir o vídeo do ano passado na rua, para lembrar da brutalidade policial do ano passado. Como o dono da câmera está dando um rolé pelo mundo, sempre dando continuidade aos seus trabalhos junto ao Centro de Mídia Independente, então me animei para dar tocar essa bola junto de amigo do CMI-Rio (que tinha sobrevivido ao confronto do ano passado, apesar de ter sido preso) e então parti devolta para Sampa City na Sexta feira dia 19.

É claro que quando chegaos na rodóviária todos os ônibus estavam lotados de freaks rumo ao Skol Beats, e voltamos para Santa Tereza para matar tempo numa festa regadíssima de cerva, salgadinhos e aqueles papos que fluem do cabeça pro papo de dondoca num assovio. Voltamos bem tortos e com os bolsos cheios de latinhas e pegamos o ônibus das 6:15 que nos deixou em são paulo num tremendo atraso, mas o ato estava marcado para o final da tarde, para garantir a projeção no telão.

Depois de largar as mochilas em aparelhos seguros nos encontramos com companheiros do CMI-SP e rumamos para a paulista, carregando o mínimo possível. A concentração era numa praça que fica bem no início da Av. Paulista (ou no final!? Bah! Do lado oposto à consolação!), anarquistas, verdes, feministas, punks, gente com cara de estudante da USP, punk com pinta de ganguista do ABC e um sem-fim de meninas bonitas, de todas as idades e estilos. Um @ na barra da saia jeans desfiada, um botton do Sid&Nancy do lado do Patch contra a exploração animal, lanço preto no rosto, ou máscara de gás. Tinha sido decidido nas assembléias que a passeata teria caráter pacífico. A galera lá tá bem organizada, destribuiram pedacinhos de papel com o telefone da “comissão legal” impresso, o contato de um advogado que está na área, pronto para soltar a galera que eventualmente venha a ser presa no caso de um confronto. Tinham também três troskos carregando bandeiras do PSTU que foram logo advertidos pelos punks cascudos

- foi decidido em assembléia que a manifestação tem caráter apartidário ô caralho!!! Então pega essa bandeira e…

De fato os três vermelhos não se atreveram a empunhar as bandeiras, limitando-se a amarrar no pescoço como se fossem uma capa, só faltava o nariz de palhaço para completar o figurino. O batukAção, que é um bloco de percusionistas que usam latas de lixo e “uniforme” Black Block (o traje preto, a máscara de gás e o capacete de obra) apareceu na concentração, batucando algo que era entre uma marcha militar ou um batuque de escola de samba. Sei lá, paulista batucando é meio sinistro. Mas de qualquer maneira quando a passeata saiu pela paulista os caras foram acertando, chegando a entoar um puta Miami (o nosso Funk carioca) que tirava geral do sério, fazendo o povo pular cada vez mais alto, entoando coros como: “ALCARALHO COM O FMI!” ou o surreal “CHARUTO CUBANO! NO CÚ DO AMERICANO!”.

Em protesto a guerra no Afeganistão no ano passado anarquistas do rio cercaram o centro cultural banco do brasil (CCBB), que abrigava uma mostra internacional sobre surrealismo, e bradaram o coro: “SURREAL É A GUERRA! AHA! U-HU!”. Também distribuiam panfletos que pediam um minuto de silêncio pelas vítimas dos ataques do 11 de Setembro, e seguindo a razão alguns minutos para os civis mortos nos bombardeiros ao Iraque, Bósnia, Somália, Sudão… enfim, no final tu ficava uma hora de silêncio, sendo que só um minuto pelos norte-americanos…

Foi negociado que não barrariamos a paulista toda, deixando uma pista livre para os carros passarem. Uma galera ia jogando bola e fazendo embaixadinhas na frente, enquanto um cordão humano de verdes carregava uma faixa mandando ALCARALHO, atrás os demais manifestantes (cerca de 1500) vinham com suas faixas e bandeiras pretas, um cordão de políciais bem escasso assegurava que uma pista da paulista fiacasse livre.

Tinha muito poucos policiais, mas com aquela cara de putos da vida, alguns sem identificação e a maioria segurando as armas ou socando os cassetetes na palma da mão. Descobrimos que tinham poucos canas porque tava rolando uma final com o corinthians do outro lado da cidade, o que tinha mobilizado a policia e o departamento de trânsito. Enfim, pena que era sábado porque destruturamos a cidade toda e tudo foi muito bem, conseguimos passar a carta por debaixo da porta do Banco Central, era uma carta gigante com um recadinho pro Armínio Fraga, os seguranças do banco, assustadíssimos, tranacaram tudo a sete chaves e ficaram tremendo do lado de dentro sem entender nada. Tudo foi na moral, excento alguns pequenos incidentes.

Lá pelo meio, bem no início, quando ainda tava de dia e ainda tinha pouca polícia eu tava bem na frente fazendo umas fotos da faixa da frente, quando derepente notei que um cana partiu pra cima de um punk que “pogava” em frente à faixa. Foi tudo muito rápido, eu sei que o cana tava sozinho, a cana-mina que tava com ele tinha ficado para trás (a manifestação tava a passo rápido nesse momento, com o batuque espancando no Miami), ninguém sabe direito porque o cana agarrou o punk, o fato é que ele estav tentando arrastar o cara para for a da manifestação para prendê-lo. Eu tava perto demais para deixar isso acontecer, estávamos perto demais para deixar isso acontecer, ele estava sozinho afinal. A galera cercou o cana, agarrando-o e arrastando-o para o meio da manifestação, tinha gente demais emcima, não dava pra fazer a foto, eu tava no ponto cego do cana, acertar o estômago dele com o tênis vermelho foi mole, a galera automaticamente, me cercava e me tirava de cena levado-me para o meio da manifestação, onde todo mundo têm a mesma cara e ninguém lidera ninguém. Alguém levou o quepe rídiculo do cana, antes de devolvê-lo a pista livre…

Quando passamos em frente ao primeiro macdonald-s já era denoite e os verdes dispersaram e foram manifestar-se em frente a loja, ameação uma invasão. Alguns manifestantes subiram numa banca de jornal e os yuppies transnuentes se assuatarm pra caralho, ao mesmo tempo que os pivetes, meninos de rua, officeboys e lokis integravam os coros. A polícia ficou desajustada, sem o aparato para enfrentar tamanha baderna. Mas a maioria da passeata proseguiu, deixando os verdes sozinhos, que logo voltaram pra paulista, após aterrorizar os seguranças e consumidores da lanchonete. Açai demais dá nisso!

Na quadra do banco central, a manifestação fechou a rua, levando um animado carnaval de rua à Paulista. Dai pegamos o outro sentimos e rumamos pra entrada do Traianon, onde o CMI montou um telão e transmitiu o vídeo do Miguel pra galera. Foi um momento tenso porque nem todos os manifestantes, mesmo que sentados cabiam na calçada do Trianon, ocupando duas faixas da rua. Tinha rtamb´m a galera que não queria desocupar a avenida, a polícia irritou-se e ameaçou avançar, alegando que não era esse o “combinado”. Mas não tinha como eles serem violentos frente aquele vídeo que mostrava a covardia dos próprios. A essa altura o jogo já havia encerrado fazia tempo e o Hall do MASP (em frente ao Trianon) estava ocupado por mais de uma dúzia de D20, muitos, muitos canas e um pelotão da choque. A cada ato covarde dos canas na tela o sangue da platéia esquentava, a cada ato corajoso dos manifestantes na tela a platéia urrava e gozava. Mas o pessoal sabia que não dava pra conforntar aqueles filhas da puta que riam da nossa cara com mais do que palavras ou desobediência civil (aquele cheiro maravilhoso no ar), não, não nesse dia… Não era o caso… Tinhamos de lembrar a covardia e a violência policial, e não provocá-la, o que não significa de que não estávamos prontos para nos defender. Quando o video terminou, geral foi dispersando, e a choque tentou pressionar-nos emparelhando-se na calçada que separa os dois sentidos da avenida, eles no meio, nós no Trianon e a cavalaria no MASP.

Quando eu tinha uns cinco anos, meu pai tinha um negócio em frente ao Trianon e algum prefeito debil mental decidiu derrubar o parque para construir um estacionamento. Passamos o fim de semana todo num cordão humano em voltado parque. Mami disse que papai era Peronista, seja lá o que isso quer dizer…

Uns menores exaltados atiraram pedras portuguesas nos canas e acertaram um bem na cara, ferindo-o. Só que já fez sabe como é que é. O fato é que o comandante da operação irritou-se muito, mas como o pessoal estava dispersando e nós o abordávamos com câmeras, luzes, advogados e dedos na cara ele não fez nada… nada… recolheu-se na sua impotência contra a relidade daqui pra frente… Pena que ninguém levou uma daquelas tortas de marshmellow…

22.4.02

Terça feira dia 23 de Abril estreia na MTV o Clipe de ONTEM EU SAMBEI do artista Alagoano Wado. A música na real é de autoria do Eddie lá de Pernambuco, daí o Wado fez uma versão bem louca no seu disco de estréia (manifesto da arte periférica, Dubas) e numa passagem sua pela cidade maravilhosa resolvemos tranformar a canção em clipe.

100% Do It Yourself o clipe foi rodado e editado no aparelho de produções da Tarja Preta Terrorismo Editorial (a.k.a "mi casa, su casa") em três enfumacadissimos dias. Daí mendigamos a ilha de uma faculdade para passar o clipe pro formato Beta e levamos para a MTV. Em menos de duas semanas o clipe estréia (terça dia 23, no programa CONTATO MTV). Agora é assim, a gente faz e PÁ! PUM!

Mini-DV, FireWire... Aquelas coisas né!? Sabemos que a revolução não será trazida pela Xerox, mas a Sony e a Apple me ajudaram um cadinho... não como corporações, mas via seus produtos! Maldito mundo grobalizado!

19.4.02

BALADAS
PERNADAS

Não eram nem dez horas e o playground estava cheio de mesas onde coroas se empapuçavam de cerveja e salgadinhos enquanto as crianças se acotovelavam sobre o videokê montado no salão de festas, ou corriam de um lado pra outro numa guerra secreta de bolas de papel higiënico molhado. Enquanto isso, não muito longe dali um Audi do ano prateado vinha desacelerando pela rua Barão de Lucena em direção ao sinal, quando foi fechado por um Monza preto. O sujeito do Audi tentou desviar pelo mesmo lado que o Monza veio, mas perdeu o controle do carro e espatifou-se num poste, sem perder tempo saiu do carro de pistola na mão e trocou tiros com os caras do monza, que responderam à altura, espatifando o vidro e o estofamento do audi com balas de grosso calibre, e fugiram pela São Clemente abençoada pelo Cristo Rendentor.

Mulheres de pijama debruçaram-se na varanda, enquanto as pessoas no boteco em frente ao ponto de ônibus há uns dez metros daquela esquina se jogavam no chão, e o segurança da rua, aquele tipinho marrento, mal-encarado e evocado, sempre disposto a fazer cara feia pros playoys bebâdos do bar, correu direto pro banheiro do bar, provavelmente para limpar as calças. A mensagem chegou via ceclular para a mesa do salão de festas – mataram alguém a sete tiros na Barão de Lucena. Assalto!? Tiro demais pra isso… Vingança? Guerra de tráfico!?

Nada disso, o dono do Audi tava vivo e longe dali, ninguém sabe se o cara foi atrás do Monza ou se escondeu. Amigos que bebiam no bar foram observar o carro batido depois do tiroteio e ao invés de presunto encontraram apenas uma pistola de cano longo e um bastão de choque. Quando a polícia chegou, o dono do carro reapareceu, tratava-se de um PF. Ha! Provavelmente usava o bastão de choque para afugentar pedintes no sinal.

Essas foram minhas primeiras horas de volta ao Rio de Janeiro, após um retiro de dez dias para São Paulo, aquela cidade grande e feia, cheia de oportunidades e baladas que alguns tem a coragem de tachar como “capital da América Latina”. Uma metrópole bacana, que perde todo o sentido depois que você conhece Nova Iorque. Acontece que a cidade é mal planejada demais, aliás, não é planejada para nada. Mas com os telefonemas certos e alguma disposição dá pra se divertir bastante. Você pode encontrar a felicidade numa galeria suja da 24 de Maio, nos puffs de um apê aconchegante e colorido na Bela Cintra, engarrafada num recipiente de plástico com um cocar numa geladeira em pinheiros, num banco de cimento num centro cultural da Barra Funda ou num palco num pico de boy perto do cemitério.

Em são paulo, as três baldeações de metrô e um rolé num ônibus não é suficiente, para chegar aonde vocie quer você ainda vai ter que andar alguns quilômetros por um sem-fim de sobe e desces de ladeiras. Mas têm algo mais bonito do que mulher subindo a ladeira? Aquela linha marcando a calça onde começam as coxas. Esquerda, direita, esquerda, direita, parece que está falando contigo:

MA – TIAS
MA – TIAS
MA – TIAS


Aproveitei, num dias desses para dessenferrujar meus skills HTMLescos colocando no ar o site da REVISTA FRENTE. Fizemos um negócio bem simples, mostrando a capa da revista, o editorial e as músicas que integram o CD que acompanha a edição. Algo para ficar no ar satisfazendo os fãs. HTML é mágico, uma linguagem simples que qualquer idiota pode entender e manipular mas só um freakyfreaky neurótico que trata o micro como cão pode dominar. Bradley diz que “staying with Loui Dog is the only way to stay sane”… Ficar com o micro e meu universo conspiratório de e-mails, mp3s e agências de notícia é a única maneira de ficar com a razão!

Se você têm um site em mente, passar pra tela do micro é moleza. Você pode apelar prum daqueles programas WYSIWYG (what you see is what you get), que vai transformar o bagulho que tu fez no photoshop num site pomposo, bugento e pesado para caralho. Você também pode escrever o código na unha, desafiando a cuca para fazer o lance mais simples, leve e econômico possivel. Você terá todo o controle do site em suas mãos, sem nenhum software senão o browser pra atrapalhar, mas daí quando tu entrega o site pro servidor são outros quintentos.

Vi os olhos do Gasperin brilharem ao perceber a simplicidade com que são feitos os sites. Eu mesmo já enchi os olhos assim há uns sete anos (dío mío o tempo passa) quando vi, através de vários sites toscos, que a Internet não era tão poderosa assim, e que seu sentido vinha simplesmente de fazer parte dela. O querido editor já tava falando que ele mesmo ia atualizar o site, que ia aprender a fazer essa linguagem, que isso e aquilo, super animado como quem pisa num planeta totalmente novo. É claro que essa alegria durou pouco, quando terminei o site e tentamos subir-lo para o servidor.

Senhas da Fapesp, puta que pariu, porque os filhos da puta te obrigam a fazer o cadastro por um servidor que evntualmente vai cadastrar um e-mail de contatos DELES, complicando a tua vida quando tu quer alterar o site por si mesmo. Puta que pariu! Atualização de DNS e Japoneses fazendo plantão de suporte num sábado a noite! Caralho! Que papo chato!

Terça feira fui para um Cabaré perto da crackolândia chamado Uranus. Nos fins de semana rola clube das mulheres, esses eventos onde homens de tanguinha vermelha bezuntados em oléo dançam e exibem os musculos no palco, eventualmente sendo agarrados e patolados por uma multidão de mulheres histéricas. Nesta terça feira estava rolando um evento de lançamento do Livro ABUTRE, originalmente publicado em 1970 por Gil Scott-Heron com o título The Vulture. Pioneiro da Blackspotation trata-se do cara que disse que “a revolução não será televisionada”. O livro, que antecede sua caerreira de cantor usa quatro personagens para descrever o ambiente no Gueto de Chelsea, na parte baixa leste de Manhatan, entre os verões de 68 e 69. Viagens de ácido com hippies que gabam-se de ter assutado um reporter da Time, ganguistas menores de idade apunhalando-se até a morte nas docas, frígido sexo interracial e fiestas calientes onde se a garota que está com você estiver bêbada você deve tentar chegar entre as pernas dela, se não estiver, deve tentar convencê-la a chegar entre as pernas dela.

Uma banda Groovy e Cool levava uma base soul enquanto o Carneiro, um black lá de sampa, recitava os poemas e canções traduzidas de Gil Scot-Heron, que encontra-se encarceirado por ter rodado com 1.2 gramas de brizola para uns tiras do Giulliani.

Dois dias depois a festa séria viria com o lançamento da revista Frente, no Urbano, confraternizei-me com os compas de maceió city, cultuando shows excelentes do Sonic Júnior e Wado Jones. O Sonic veio cheio de música nova, e aquele estilo de HC-batuque-eletronico que já assutou bastante Europeu. E o Wado finalmente podendo mostrar as caras em sampa pra uma platéia decente, a outra evz ele tinha se apresentado num sábado do Orbital, reduto indie cagagoma de sampacity. Desta vez era um “puta pico de play mano” mas dominado pelos quinhentos convidados da revistas. Jornalistas, produtores, freals, gaúchos, bichas, potheads e muchachas pra todos os gostos. O cara fez um som plugado no primeiro disco, só com um par de músicas do trabalho novo, ainda muito experimental. Uma delas a “tarja preta”, fruto de uma gastação de onda do loki com um tal de maxx matias, em algum pico barato de maceió city no ano passado. Rolava um mezanino coms area vip onde distribuiam um tal de MAX ICE, uma dessas bebidas ICE feitas pra mulherzinha ficar doidona suavemente a altos custos. Uma espécie de keepcooler do ano dois mil mas com embalagem verde.

Você tinha começado a noite de tarde, de papo furado com teu editor. O choque de não ter confirmado sua presença no Abril Pro Rock deste ano, que nem tinha tantas atrações legais, mas comemoraria dez anos. Porra, a raiva só aumenta mais quando na vespera do festival, quando você abandona toda a vontade e desencana de vez, uns gringos finalmente rspondeu teu e-mail de semanas atras mostrando-se talvez interessados em publicar algo. Ah! Eles vão demorar demais pra publicar e me pagar, não vale o esforço, não vale a pena. SACA!? Bah! Já engoli sapo pracaralho! E sobrevivi e voltei vitorioso esfregando o trabalho publicado na cara dos filhos da puta todos. Mas as vezes tu não tem saco pra isso. Oportunidades mais bacanas certamente virão, quem sabe mês que vêm…

O verão minguou do calendário mas ainda torra a cidade maravilhosa, apesar de não realizar aquele efeito bacana sobre a cena. É hora de mudar de cena!? Um monte de coisa me atrae pro verão do hemisfério norte. Mas vale a pena!? Tenho que me mover pra caralho hermano… Acho que tudo vale a pena… Essa vida vale a pena!

Voltei pro rio. Abracei meus conterrâneos numa maldita e fui empurrando a semana com a barriga. Todas as manhãs um compa do CMI visitava o aparato da Tarja Preta pra legendar um vídeo massa do CMI-NY sobre o 911. Amostra de que ainda têm gente inteligente naqueles picos e que se opõe totalmente à guerra – “se o que aconteceu aqui foi pior que Pearl Harbour será que teremos de ser piores que Hiroshima?” – Questiona um dos muitos novaiorquinos entrevistados.

Há algumas semanas uma mina da produção do Jô enviou um e-mail querendo contactar o Pedro Ivo pra uma entrevista. Lembrei do dia em que ingressei na 2pG, há mais de dois anos e conheci aquele baixinho loiro e arrumadinho que não fui com a cara de cara. Até que falamos de fanzine e “coisas que escrevemos”, dai a identificação foi total e comecei a publicar o LOSER por aqui. É claro que eu sabia que mesmo dando todos os telefones, contactos e recomendações pra mina do Jô o Loser seria contactado e recusaria o pedido por pura timidez… Vai entender… Agora pouco o programa do Jô tava entrevistando uma hippie baiana que faz essas pinturas com Aerosol e espatúlas – “Uma técnica Mexicana” – dizia a gatinha arrumadinha entre uma história de biritagens com camionheiros ou rolés pela América do Sul com amigos chilenos. Gatinhas que não necessariamente precisam ser sujas ou se vestir mal para serem Hippies, o que as faz assim é a maneira que aprenderam a se virar e se sobreviver e fazer arte da vida, mais do que vida da arte. Não estou falando de artesão de durepox faminto e viciado, estou falando dessas mulheres maravilhosas com muita história e vivência.

Gente com ganas de cruzar qualquer limite ou fronteira, transcender qualquer bandeira na mais clara noção de que o inimigo te odeia.

Uma leitora argentina diz que se largou de mochilão no mundo aos 16 anos, em Rosário conheci uma mina nova também que para ver o Manu tinha pego um trem desde Buenos Aires e feito Malabares a tarde toda pra conseguir a passagem de volta. Lucrou com os vastos engarrafamentos entre as duas cidades, visto que Rosário abrigava naquela noite o esperadiíssimo show de Manu e também o Maná. Em NY uma universitária tinha descido desde Toronto ilegalmente no busão da Radio Bemba (quem ia suspeitar que o autor de Clandestino ia ser tão caradepau assim?), ela me ensinou um monte de coisa sobre cogumelos, peiote e a região do deserto mexicano onde o “magnetismo é único”. Ela tinha o mesmo quadril largo do que um dos meus casinhos de segundo grau e fizemos altos planos para quando ela viesse ao Brasil estudar o Pantanal. As vezes eu me admiro com a capacidade com que consigo ser tão amável e romantico com essas muchachas e tão escroto com outras, como quando falava “ahans” e “simsims” para uma louca obsessiva no telefone, com nóia de desprezo e ciumes de uma amigo, ao mesmo tempo em que jogava Playstation com os dedões do pé e mesmo assim conseguia roubar várias pistas do mamata no Tony Hawk (jogando com os dedos da mão o mamata não é um adversário a altura)… Em montevideo uma bela voz num rosto bonito descola muita grana nos ônibus. Lá é clássico, além das pessoas todas (inclusive os canas) te comprimentarem quando você tá estendido na rua coberto por uma marola, duplas de violão e voz entram nos onibus levam um som e descolam trocados de geral. Aqui os caras têm de mandar muito pagodes até que um cara irritado como o Mosca chame um deles no canto e mande um – “Toma! Eu te dou cinco reais pra tu mandar um do Bezerra e dar o fora daqui porque eu não aguentou mais esse chacundum”. É claro que ela falou isso com muito mais manha, manha demais, fazendo eu e o Pedro Ivo se cagar de rir

Teve hip hop rio no teatro da lagoa. Que tá pra acabar. Foi legal, o D2 de boina apresentou as Negaativa e o B.Negão. O Negaativa evoluiu bastante desde que as conheci por sinal na Casa do Caralho. Os vocais tão bem amarrados nas três MCs, que se apresentaram com uma percussinista mais o Bira Show da Mangueira e o Bidu do paralamas além de três B.Girls. Tomara que bombe! O B.Negão é aquela quimica maravilhosa que a gente já conhece, uma banda fodona, só com estrela da cena carioca e um repertório muito bom. Naquele vibe suingado, reggaemanico, com um pouco de samba, cultura pop e geek, coisa que só se ouve no rio de janeiro. O Jodele Larceher gravou um especial nessa ocasião e me contratou pra fazer uma camera descaralhada…

Bem mais tarde, no camarim, quando todo mundo já tava indo embora e eu tava guardando o equipamento na mochila, um pitboy com cordão de ouro entrou acompanhado de um MC de uma banda comédia. O Cara apresentou um fino que cheirava bem para caralho e tinha um gosto delicioso. O cara cagou goma de que era um homegrown do Chronic que tava rolando na cidade. Não fez tnto a cabeça assim, a viagem não supriu as espectativas. Seria alguma dessas sementes de canhamo que vendem legalmente pela high times pra enganar trouxas? Eu tinha que descolar o livro de viagens do Chris Smulleck. Um dia quem sabe, quando já tiver me atirado bastante e tiver muita roubada e boa pra enumerar talvez reuna tudo e faça um livreto de viagens.

Amo viajar. Eu já viajei por vários cantos do mundo, e vou viajar sempre. Filha da puta nenhum vai me impedir, de jeito nenhum, filho da puta nenhum vai me impedir, não sei o quão custoso vai ser. Mas filho da puta nenhum vai me impedir de me deslocar guiado pelo coração. Por isso afirmo uma vez mais que amo o lugar de onde vim e o que sou. E cada mais feliz por estar ada vez mais próximo do que sempre quizer ser.

Anos atrás você afirmou seus ideias e plantou uma bomba que sabia que tinha data pra detonar. 2002. Você lista as suas conquistas e os passos que precisa dar, e não se desespera, mas fica certo de que vai ter de se mover bastante, e para isso, combater um monte de coisa e gente. Você vai em frente cara!

5.4.02

Cês sabem...
Eu podia escrever linhas e linhas sobre o sucesso do cucaracha #6 e da fiesta cucaracha. Sobre o rap cucaracha do MC Aori e dos scrateches locos do DJ Babão. Sobre como as muchachas revolaram e os manos urraram com a latintronica e me fieram sentir o mestre do universo. Mas o mundo vai mal, e qalquer notícia que eu tenho sobre o Ariel Sharon ou qualquer outro filhodaputa e covarde desses me tira do sério e até me faz chorar...

O cartum que ubliquei no último Post é por causa disso, é do Latuff, um cartunista político carioca classico. Ele fez uma série hamada "somos todos palestinos" (we are all palestinians) onde ele compara as atrocidades vividas por esses povo com atrocidades vividas por vários outros povos na história. Escolhi a imagem do menino judeu, sitiado no Gulag de varsóvia, identifcado com um estrela no peito, sem poder sair ou receber ajuda humanitária, esperando o destino que o estado FASCISTA lhe reserva. Pouco diferente do que o século 21 faz com outros filhos de Abraão...

Ontem teve festa de lançamento de um restaurante aqui perto. Amigos donos, red bul e uisque na faixa. Essas merdas sempre te fazem esquecer de tudo...