21.1.02

verão sem fim



Há quase dez anos atrás um moleque altamente influenciado não se sabe bem pelo que brigou com o sol. Tensão demais sempre rondara sua vida por pensar e agir diferente, parte pela paranóica ultraproteção familiar que o levava ao redor do mundo sem permitir a exploração de seu próprio universo. A verdade é que após anos de conflitos sangrentos em defesa da honra e integração eu tinha ficado de saco cheio de toda a sociedade que me rodeava e encontrado meu próprio mundinho atrás de um controle de video-game ou livros e dados pelos poucos espaços que naquela época abriam para admiradores de filmes trash, quadrinhos europeus e bandas como kiss ou iron maiden. Mas música não fazia minha cabeça, nem droga, nem a escola, nem a praia, nem o sol. Pelo menos aprendi a sair de casa e me relacionar com pessoas, confirmando a certeza de que existe gente digna no mundo, não como aqueles filhos da puta todos que aprendi a odiar, na certeza de que eu era um cara melhor, e de que ia continuar sendo toda a vida.

Em algum momento de 1993, no castelinho do flamengo alguém me deu um telefone de uma BBS diferente daquelas porcarias comerciais que infestavam os anúcios do Informática etc. A consulta ao dicionário à palavra Anarquismo lançou uma corrida a bibliotecas e livrarias. E tudo se deu início.

Hoje costumo perguntar as pessoas da minha idade (a geração do futuro, virando o século com 20 ou 21 anos) se elas são hoje o que imaginavam há dez anos atrás, a maioria se bola e não sabe responder. Mas eu tenho a certeza de ser uma pessoa muito mais feliz e realizada, convicta nas minhas idéias e atitudes e esperançoso quanto meus projetos e por fim, acima de tudo de paz com o sol.

Foram anos de viagens. Introspectivas, sob efeito de substâncias, vasculhando minha cabeça, enquadrando personagens e alter-egos em busca de respostas, estendendo o dedo pra família exigindo explicações e justificativas. Viagens pra fora de casa, pelo brasil, conhecendo e curtindo gente maravilhosa, aprendendo a ser local onde for que seja, viagens pelo mundo, sempre atrás do verão, estudando culturas distintas e sempre colando nas pessoas que valem a pena. Atire dois doidões numa massa de caretas e eles se encontram, ah sim se cruzam sim. Viagens diferentes das viagens guiadas e roteirizadas pela familia que traumatizaram a infância (recheadas de esperas em lojas de todo tipo por todo o mundo, hoje só ando com o mesmo par de tênis o ano todo por repudiar lojas, esperas e shopping centers).

Em Punta Carretas, Montevideo foram encarcerados no final da década de 70 vários guerrilheiros Tupamarus que mais tarde realizariam uma fuga em massa. Hoje em dia esse prédio é um shopping center, igual aos que você vê em qualquer lugar do mundo. Foi no interior do uruguay, deitado num cavalo, vendo o sol brilhar no horizonte infinito na companhia de muchachas deliciosas e um violão que tudo ficou mais claro, isolado com minha família numa fazenda com nada mais pra fazer do que matar tempo, comer e interagir com pessoas (trocar idéias e fofocar) você reorganiza seus pensamentos e descobre como é fácil ligar o foda-se, afinal tudo não vale porra nenhuma e na real dá pra se adaptar a tudo. De volta a Montevideu, uma cidade extremamente pacata e sedutora, um impulso arrastou a gauchinha que me guiava para dentro de uma loja de tatuagens e feito Tromeu e Julieta no ápice do filme marcamos as costas cara a cara, a escolha inevitável foi um sol.

Dois dias de volta ao rio de janeiro são suficientes pra sujar a alma de qualquer um. A primeira semana depois de uma viagem sempre é a pior, mas você não passa a odiar mais sua terra natal por isso, pelo contrário. Vai entender.

No dia primeiro, quando acordei no meio do pasto, rodeado de vacas e bombachas sem ressaca mas também sem lembrar do desfecho da noite anterior tive certeza de que seria um ano legal. Acessando a rede através de um micro muito furreca na sala de espera da Pluna consegui meu primeiro trampo do ano, clicar e resenhar as sunset parties do Bavaria Vibe, evento de música eletrônica rolando todo sábado em búzios e Maresias, basicamente fotografar os DJs e meninas de biquini, a única foda é ir e voltar pra búzios no mesmo dia (mais de duas horas de estrada em cada trip), de volta ao rio descolaria uma cacetada de outros freelas em trocas de e-mails e esbarrões na efervecente noite carioca, caralho! Esta cidade rola meia-bomba o ano todo pra explodir nesta época, há possibilidades para todos que quizerem gozar e se estragar de segunda a segunda sob a lua (que hoje parece um queijo pela metade) da cidade maravilhosa. E eu ainda não faço a menor idéia do que vai ser do carnaval, porque o deste ano é importante!

No campo, me divertia contando para meninas de desseseis anos e carinhas de dezoito como na noite carioca não existia namoro e que sexo entre amigos era totalmente normal, usava os próprios clichês para formentar a imaginação daquela gente toda que lota o litoral catarinense achando que aquilo é Brasil :)

Num domingo desses sem porra nenhuma pra fazer, estava parasitando com um vizinho quando um dos maiores encrenqueiros do bairro aparece aqui em casa com seu camelo aditivado e sua indumentária da Bad Boy. O cara é desses pit boys (jiu jitsu + açai) maconheiros que colam com os doidões (e os bandidos também) na busca de alguma personalidade, no fundo você sabe que o cara nada mais é do que uma criança que nunca cresceu, mas nunca se pode confiar numa pessoa com tantos músculos assim, por isso as suas visitas ao apê do rock são sempre recheadas de tensão. Mas nesse dia o sujeito tava empolgado, dizendo que tinha pego uma coroa na praia e que ela tava vindo pra minha casa com sua sobrinha ninfetinha dispostas a tocar uma suruba. Primeiro fiquei meio puto pelo cara ficar dando meu endereço por aí, mas logo depois me acalmei na certeza de que se tratava de mais um caô. E me surprendi, puta que pariu!

1998 começou num verão maravilhoso. Foi um ano maravilhoso, no carnaval me libertei de um peso terrível e naquele comecei a fazer as pazes com o sol. Prometi esbórnia e descompromisso por pelo menos três carnavais, quando eu repensaria meus conceitos e todo esse tempo de putaria. Nesse meio tempo, cometi algumas vacilações, entrei em algumas roubadas feias e parti meu coração algumas vezes, mas neste século, neste século até agora eu só vivi no verão.

Com carnaval, copa do mundo e eleições na programação 2002 promete muita risada e alienação. As eleições já começaram com com o assassinato de PTistas e os absurdos anúncios da mais absurda ainda Roseana Sarney, parente daquele bigodudo desgraçado que pra mim e pra muitos foi sinônimo daqueles desgraçados anos oitenta. Foi dada a largada para a temporada de caça aos patos como sabiamente profetizou o B.Negão inaugurando o ano com um puta show no Humaitá Pra Peixe.

Os Netunos conseguiram levar os indies pra praia, algumas entraram na água de vestido :) Violões incorporavam Charly Garcia, Chico Buarque, Manu Chao, Candobe e Milongas ao redor das fogueiras do sul do mundo. MK2s reporduziam Funk Pancadão, Jorge Ben, Hip Hop Gringo e carioca numa festinha Inumana na lapa que só acabou por conta dos vizinho. Electro e drum'n'bass bombava a pista coberta de espuma na praia de Geribá em búzios e Yuka incendiava a platéia num discurso irado e revoltado contra todos esses velinhos filhas da puta que só sufocam, parecia um clipe do The Wall, mas com um som que nunca é rock, no máximo pouco reggae. Esses são meus dias, meus sons, meu mundo, eu sempre quiz fazer parte dele e hoje estou super feliz, de maneira que não imaginava há dez anos atrás.

Mas tem dias em que você acorda e dá tudo errado! Algum filho da puta faz faltar luz em dez estados do país e sobra pra um dos HDs do teu micro que queima, indo pra vala com todos aqueles textos que você tinha rabiscado, e todas aquelas imagens que você tinha escaneado para seus freelas. Você têm uma caralhada de coisas pra fazer, um monte de gente pra ligar e entrevistar, uma porrada de fotos para reescanear e mandar por e-mail e um video pra recomeçar a editar. Você fica tão puto pelo apego aos seus bens digitais que você não faz porra nenhuma o dia inteiro! Não há saco pra fazer porra nenhuma. Você acha que o dia vai ser uma grande merda, mas você suou bastante pro sol, então você escreve essa porra toda aqui. Nada mal hein!? Eu sou assim... complicado! Sei lá!

6.1.02

Alguien en el Mundo piensa en mi
Charly Garcia


Yo se que no soy culpable
Yo se que ahora soy feliz
Yo se que queria que alguien
Alguien en el mundo piensa en mi

Yo se que soy inbancable
Yo se que te hice reir
Yo se soy insoportable
Pero alguien en el mundo piensa en mi

Nada que hacer
Nada que ver
Sólo vemos las películas negras
Nada que hacer nada que ver
La vanguardia es asi
Ohh.

Alguien en el mundo piensa en mi

Yo se que soy inbancable
yo se que ahora soy feliz
yo se que soy un amable traidor
alguien en el mundo piensa en mi