14.2.03

BLIN BLIN

Eu toi indo direto no Manolo´s, o bar é bem maneiro, antigo como tudo aqui. Você saca quando uma parad é maneira quando eles mantém as paredes e arcadas internas como eram ao invés de substituir por uma decoraçao sofisticada pra agradar Yuppie. É claro que rola uma decoraçao, mas as paredes ainda sao as mesmas do tempo de Colòn. O bar é bem maneiro, toca Hip Hop e Dancehall e rola um projetor que mete uns videos de Skate numa parede, a maioria videos locais, rola uma cena de Street neurótica aqui em Barcelona, é muito foda voce ir no Museu de Arte Contemporânea e ver os skatistas se aproveitando das rampas e corrimoes desta arquitetura moderna, enquanto os guardinhas nao tao nem aí. Aqui neguinho pixa uma parede de mil anos e neguinho acha maneiro porque é maneiro, no Brasil andar de skate em locais públicos ou pixar é considerado vandalismo e se nao te mete em cana pode no minimo te reder uns tapas na cara. Vai entender... Pra completar a cerveja é relativamente barata e pode-se fumar haxixe sem cerimonia, quando eu lancei o Bubble Gum, o barman com a maior delicadeza do mundo pediu pra eu me afastar um pouquinho da porta. É que skunk holandês fumado a moda sulamericana dá o maior futum. O único problema do bar é que como os donos sao uns skatistas canadenses enche de gringo ignorante, desses que nao falam uma palavra de espanhol e nao fazem o menor esforco em aprender, indo só em lugar onde as pessoas falam Inglês e perdem a melhor parte, e ficam nessa vidinha mais ou menos já que por aqui, diferente do brasil, ninguém (principalmente as minas, diferente do Brasil) dá bola pra gringos cabrones de puta madre!

Bem foi neste bar que eu conheci este Basco, nao me lembro o nome dele, era dificil. O cara chegou em mim dizendo, ou melhor gritando.

- OYE GUAPOOOOO!!! Pareces un pintor!!!

É que eu tava com uma boina, nao foi o primeiro que falou que eu parecia um pintor, um menino de rua no Rio já o tinha feito. Mais tarde um gringo olhou pra mim e riu - ha ha ha, leonardo da vinci, ha ha ha - Quase ficou sem nariz. Bem, o tal do basco tinha acabado de acender um porro e me convidou a sentar com ele e sua trupe, uma loira tingida que nao era de se jogar fora e uma bichinha noiada. Por aqui quando alguém te convida a sentar, geralmente o faz catando alguma cadeira e arremesando-a na sua direçao, brutalidade é uma constante e tu começa a entender o que eles fizeram com a América. Quando o cara ficou sabendo que eu era do Brasil quase chorou, ele tinha acabado de vir do Rio de Janeiro onde se divertiu muito e comeu uma mulata por trinta reais!!! Porra, isso nao sao nem dez euros, e aqui pra começar a brincar com uma puta tu desembolsa pelo menos uns 40, e as putas sao as mesmas da América Latina. Dai esse gringo interrompe a gente.

- Do you have Hash for sale!?
- No man! Just Coke! Want some!?
- Oh! No Thank you...

Eu fingi que nao ouvi e comeceçamos a falar de maconha. Por incrivel que pareça o cara parecia gostar da maconha brasileira. Ou ele deu sorte as vezes que foi pro Brasil ou dev ser que quando tu se acostuma ao haxixe com tabaco até o nosso prensado puro parece decente. Mas aqui na espanha rola muito bagulho fresco e bom, os growers chegam a produzir meio quilo a cada dois meses por cada foco de 1000W. Andei estudando um pouquinho. A conversa sobre maconha nos levou até Amsterdam, onde ele disse ter estado antes de ir ao Brasil. Nessa eu matei a charada e entendi porque o cara nao parava de pagar Whisky e cerveja para mim e seus amigos. A esta altura o pico estava bombando e um skatoista revoltado arremessou alguma coisa pesada contra o carinha do balcao, que só lamentou. Os próprios amigos dos skatistas ocuparam-se de segurar o cara e cobrir-lhe de esporros. Depois de uns três Porros tava tocando Sizzlla me levantei e dancei. Depois de algumas horas o Basco tava caindo fra e me convidou a acompanhá-lo. Resolvi ir junto, queria ver até onde isto ia, ingenuamente pensando que este porra louca podia ser um belo aliado...

Dai na rua a mina para pra falar com um grupinho de gente que tá chegando no Manolo´s, dentre eles tá um cara grande, cabeça raspada, todo musculoso, com dois metros de altura e essa cara de imbecil que esse tipo de gente tem. O meu suposto amigo Basco é menor do que eu, nada musculoso, tem cabelo grande e isso sim, uma cara de fanfarrao psicopata peculiar. Ele vem correndo e pula em cima do grandao, abracando-o com braços e pernas. A principio a gente tava achando que tratava-se de alguma saudaçao meio homossexual, mas logo vimos que o Basco começa a se debater, enquanto o grandalhao o gria como um boneco, colocando-o de cabeça pra baixo, puxando seus cabelos e ameaçando bater com a cabeça dele no asfalto enquanto o basco se cagava de rir ameaçando cegar o grandalha com os dedos. Eu e um outro carinha que tava na rua nos ocupamos de separar os dois, uns policias por acaso passaram pela rua e ignoraram a confusao, só se lamentando. No que a gente separou os dois o Basco sempre rindo pede desculpas pro cara o abraça e aproveita o primeiro vacilo para golpear-lo no nariz e nocautea-lo. Lona, o grandalhao caiu que nem papel. Eu sempre disse que briga nao é musculo mas maldade e criatividade.

Seguimos o rumo, o cara foi na frente com a bichinha e eu atrás com a loira, que era uma palestina exilada primeiro no Peru e finalmente em San Diego. Mas que odiava os Yankes de merda. Ela logo tava me enchendo de beijos, o que me deixava bastante constrangido porque eu nao sabia o que o Basco Vida Loka ia pensar. Resolvi apartar-nos, deixar a putaria de lado e começar a falar mal do Bush e do Ariel Sharon. Funcionou, ñao teve mais beijos, só indignaçao. Chegamos numa boate sofisticada que tocava música eletrônica, tava meio vazia e tinha cerveja cara, ficamos lá tipo uma meia hora, tentei dar idéia numas outras espanholas, mas o fato de estar acompanhado pelo Basco Vida Loka atrapalhava tudo. O cara deve ter já sua má fama, mas é respeitado por ser tipo assim o fornecedor. Saímos de lá e fomos pra casa do maluco, um apartamento gigante no bairro gótico com poucos móveis salvo exceçoes como o praticado das MK2 , disco pro toda parte e algumas "obras de arte contemporânea" cá e lá. Tinha um carinha dormindo no quarto das MK2, ele foi acordado com chutes no estômago, o Basco tava ficando cada vez mais violento, volta e meia olhava pra mim e erguia o puno fazendo uma cara de maluco que me lembrava o Malcom McDowell em Laranja Mecânica, quando depois do tratamento ludovico ele tentava atacar as pessas mas sentia-se impedido, mas chegava a erguer os punhos, mas congelava. O mesmo acontecia com o carinha, ele tava doido pra entrar na porrada comigo também, mas se segurava, sabia que se isso acontecesse os dois iam acabar bem, bem mal. O problema era se os outros se voltassem contra mim também. Por isso eu sempre buscava estar em posiçoes estratégicas onde eu nao estava de costas pra ninguém e sempre tinha um objeto cortante ou pesado por perto. Ficamos ouvindo uns discos de música eletrônica e fumando um porro enquanto o Basco endolava generosos papéis a partir de uma pedra que devia ter umas 50 gramas de brizola do CV. O clima tava ficando pesado e quando saimos do apartamento eu resolvi me despedir do bonde (o que foi custoso) e partir pro La Paloma, onde ia encontrar com a Jenny.

A Jenny é uma californiana que já vive há muitos anos em Barcelona trabalhando em bares e restaurantes. Ela tinha me descolado uma entrada pro La Paloma pra conferir o "Bongo Lounge" dos "Dope Brothers". Nunca tinha ouvido falar mas a filipeta tinha uma foto do Luchador Mexicano "El Santo" o que já valia a festa. Encontrei com a Jenny no caminho acompanhado de seu bonde de gatinhas de diversas nacionalidades (Suécia, UK, Finlândia) mas todas com espanhol impecável. E mesmo assim fomos barrados, a boate tava bombando e nao entrava mais ninguém, nem pagando. O amigo que trabalhava na porta nao podia fazer nada, porque os macacos da segurança nao deixavam ninguém chegqar perto e tavam doidinhos pra quebrar a cara de alguém.

Estes espanhóis sao uns Barbáros.

Nenhum comentário: