29.8.02

DE UMA SELVA PARA A OUTRA

Paz! Respeito! Um amor!
A EcoSystem aconteceu denovo! E recarregou as baterias de todo mundo, enchendo-nos de força suficiente para arrancar cabeças e saltar edificios. Não foram pouco os problemas e correrias, tampouco as glórias e prazeres, porque todos sabíamos como trabalhar. A melhor maneira de sobreviver é com o amor, o amor cura tudo.

O Greenpeace, que deveria fazer a orientação ecológica do evento, ameaçada com os boicotes ao mesmo teve de vestir a camisa e efetivamente produzir quase tudo no evento, pois qualquer vacilada comprometeria seriamente o nome da instituição, sempre patrulhada por madereiras, jagunços e políticos de merda. E ao ver toda aquela gente querida se matando para fazer o lance acontecer, não tinha como não vestir e fazer o possível também, seja servindo de babá de gringo ou catando o lixo da festa do chão.

Buscar os artistas no aeroporto exigia que dormissemos pouco, pois tinhamos que tar lá antes de meio dia. No entanto era bacana porque a maioria era super sangue bom e respeitavam a causa que carregávamos. Caras como o Bamba ou o True Master Killa não davam muito mole, mas conversavam na boa enquanto filosofavam e pregavam:

- Manaus vai ser uma das maiores cidades do mundo! Eu sou um visionário! Eu consigo ver as coisas antes que elas acontecem - dizia o True Master.

Eu tou ligado nisso também, dá pra sentir o cheiro da merda que vai acontecer daqui a um par de décadas naquela cidade. Escrevi um quadrinho a respeito. Tão assutador quanto olhar a imensidão verde da outra margem do Rio Negro era um dos caminhos do centro para a festa que só passava por todo tipo de quartel e vila militar que você pudesse imaginar, inclusive o maldito projeto SIVAM, tipo assim uma base com tecnologia gringa feita para monitorar a região pra gente, ou seria monitorar-nos de nós mesmos?

Ir buscar os skatistas também foi divertido. Eu já conhecia alguns deles do X-Games, além do Julio Feio que é um dos poucos Pros do Rio que tá sempre na nite, mas dai deu pra trocar idéia com bastante deles. Era sempre divertido ver a reação da galera ao calor infernal de quarenta graus com extrema umidade, numa terra onde não importa quantos banhos você tomar, você vai estar sempre suado. Mas onde o sexo melado e caliente é uma constante. E vem voluntária e vai gringa, todas as cores, idades e estilos. Um par de skatistas do sul reclamavam que só tinham trago moleton, enquanto a maioria só resmungava reclamando de um skater coroa que não parava de cagar regra na outra van. O cara é tão caga regra que dava pra ouvir de uma van pra outra... Tipo assim...
Mais tarde no campeonato foi a maior loucura, sol infernal deixando todo mundo passando mal e fãs querendo arrancar pedaços do Bob Burnquist. Depois que ele ganhou o segundo lugar, jogou a camisa, os tenis, o shape, a porra toda, neguinho ainda não deixava ele descer do half, neguinho queria tipo assim uma orelha, um dedo, um escalpo... sei lá... Foi nervoso! Febre na selva!

Aguardando no aeroporto também estava um grupo de entre dez a quinze Rastas locais, eles carregavam toda sua coleção de discos do Lee Perry esperando seu autografo. Nos perguntavam em qual voo ele viria, mas não faziamos idéia visto que o Greenpeace tinha mandado os PTAs pros caras mas eles nunca confirmaram o recebimento. No final acabou pintando o Mad Professor, o cantor Sinclair, o baixista cabeçudo super sangue bão e mais um Rasta coroa que até hoje não descobri o que faz. Eles são caras que emanam espiritualidade e sangue bom por todo poro do corpo. São sujeitos amáveis, coroas sangue-bom, rastas do bem.

Montaram um´puta palco pros caras, com batera, amplificadore e pick-ups. o público se espremia no palco e cameras acotovelavam-se pelos cantos quando o dub começou a contaminar o ar. Um dub bom demais pra ser discotecagem, mas onde diabos estava a banda, que até agora não tinha aparecido no palco, nem sequer no backstage (que era a pista de skate). Demorou uns cinco minutos pras pessoas perceberem que os rastas tavam lá atrás, na cabaninha que abrigava a mesa de som. O Mad tava fazendo o dub, enquanto um dos Rastas cantava com o maior estilo com um microfone estilo madonna, o baixista ficava lá do lado fumando um e exibindoi seu sorriso gigante... ah! o outro Rasta!? sei lá dele... Os Jamaicanos sabem o que fazem!

E dai tu que queria esticar pelo norte e ver umas pessoas que você ama lá perto do Caribe acaba não conseguindo fazer os contatso e magnetizado pelo dub estica a viagem do avião de volta e vai parar em SP na casa de um video-truta super milgrau que tu conheceu lá. A casa é confortável, e o cheiro do reggae tá sempre no ar... A cidade é horrorosa mas tá pra ser tomada por quatro dias de dub... ontem teve o Bamba com Sano, Speed, Max e outros rimando...
Massa... Massa...

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