20.8.02

Agosto de 2002. Matias Maxx está prestes a fazer 22 anos, prestes pra viajar atendendo o chamado da selva. A maior parte do território e população mundial está no hemisfério norte, portanto morar no sul do mundo é um previlégio pra poucos, apesar daquela tirinha da mafalda onde Guille observa o globo e descobre que estamos de cabeça pra baixo – por isso as idéias nos caem – reflete a muchacha mais nervosa do mundo das Hqs.

Mafalda era uma gordinha cabeça dos anos sessenta, tão contestadora quanto inocente. Mais que um personagem, todo um espírito, um sentimento que independe de idade. Por Quino, Mafalda nunca evelheceria, o problema é que os tempos mudaram. Os tempos mudam mais rápido do que nunca. Mas espíritos e sentimentos permanecem, não se podem matar idéias porque são a prova de balas. Ainda dá pra namorar aquele idealismo sabroso ao som de um violão sob aquele horizonte estrelado do sul do mundo. Aqui há um povo que carrega a música em seu sangue, como o herói que os filhos da puta nunca vão conseguir calar.

Questionador e aventureiro sempre me dei bem sozinho. Na minha compania, Matias Maxx já conseguiu ir muito longe, e se divertir bastante no caminho. No entanto ninguém sobrevive sozinho, ainda mais nos dias loucos de hoje.

Tem um ano que eu abandonei o inferno corporativo que enchia meus bolsos de lúxuria e ganância, e fazia meus cabelos cairem de estresse e meus nervos descontrolar-me. Eu tava progredindo, abraçando meu sonho, estava colaborando com uma revista de música que viabilizava meus contextos e me dava uns trocados. Acreditava que do jeito que ia em um ano ia tar muito bem, não de grana, mas de contextos. Pela BiZZ cobri um freejazz, o rockinrio e um abril pro rock, além de desovar várias idéias legais, com o final da revista o que sobrou foi a lorota. Com um par de e-mails e telefonemas bem intencionados consegui a bocada do milênio – ia viver de perto a loucura que seria a tal da “rave na floresta”. Mesmo que não tivesse meio algum pra colborar.

Na insólita aventura na selva eu não tava sozinho. Tinha toda uma fauna de amigos e conhecidos como a Maíra, Bernardo, Pedrão, Zé, Gustavo, Speed e os Inumanos além dos “n” malucos que conheci e reencontrei por lá. Ha! É bom ter marcos para você ter a noção de quanta coisa acontece em um ano.

Fiz uns clipes, um vídeo com alguma repercussão e vários freelas que me divertiram mais do que pagaram e repercutiram e outros que repercutiram e satisfazeram mais do que pagaram. É a sina do terceiro mundo, não que um esteja sendo ganancioso, mas é que tem uma família toda te cobrando por trás. A roubada do ano na real foi entrar no fuso horário da sony, digo do japão, nessa de copa do mundo e tony hawk pro skater. Só serviu pra atrasar a coisa toda.

Conheci o Gaiman e tive a certeza que posso ser um puta roteirista de HQ… tou Elaborando uns roteiros mas a Son… digo o nippon atrasou bastante… Meus desenhistas também são talentosos, mas não aquele exemplo de velocidade e plavra. E o mundo é um ligar complicado demais… os computadores também não colaboram muito!

Computadores fazem arte!? Artistas dinheiro!? Por favor…

O ano passa e mesmo num mundo que só se atrasa e bagunça tu consegue dar vários passos, mas nem tudo sai como planejado. Tava naquela onda de aproveitar o calor, feito uma planta que tu coloca num regime de 24 horas de luz pra ela ganhar força e florescer mais rápido. Pulando de um hemisfério pra outro eu poderia viver um verão sem fim e uma sintonia do caralho com o mundo. Internet faz as distâncias mais curtas, um par de e-mails fez com que Brian me mandasse um álbum duplo do Sizzla mais seis compactos Jamaicanos com Raggas fudidos de um lado e Dubs malucos do outro e mais um LP antigão do U-Roy, um rasta coroa comum assistente anão que canta pra caralho. Rizzo me mandou um CD com centenas de MP3 e belas surpresas por dentro, sementes pra toda uma geração de loucuras.

A Maíra, minha aliada no Greenpeace me botou em contato com a Tica, que me descolou um trampo de fotógrafo pra EcoSystem deste ano. Fazer as fotos de divulgação das atrações do festival, o campeonato de skate e todo o making off. Ralação que certamente vou encarar naquele estilo… Aproveitando que estes dias tou romântico…

Eu amo esta vida. Eu fui feito pra viajar… Me atirar de cabeça. Lembro daquela primeira vez que viajei com meu avô. A passagem era de econômica, mas ele mandou um KO, tinha area de fumantes naquela época, eu fiz cara de asmático e a Varig colocou a gente na primeira classe onde serviam sorvete Hagen Daz e o caralho!

Um ano passa, um ano que você decidiu viver de um jeito. Do jeito certo pra viver, dando nós na cabeça e cagando pra todos os maus olhados. Ganhando dinheiro de cueca e viajando dentro de cabeças, maquinas, estradas e correntes de ar. Tudo vale a pena, porque nada me faz pensar que o passado era melhor, o presente sempre supera tudo.

A partir de amanha tou na missão.

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