21.3.02

Sempre se repete, um emendando no outro como numa novela de televisão

Sim, você sempre se salva, por mais que no último capítulo você acordou quando a chapa esquentou… e esquece tudo!
No dia seguinte você tá vivo, o seu redor é aquele universo bizarro de sempre, onde você tem a manha de escalar o ar, uma modalidade diferente de “voar”. Nos meus sonhos sempre há muita gente convivendo, rolam altos jogos de relações, e tá todo mundo no mesmo ambiente, que tá pra alguma cruza de hotel de campo com comuna… sei lá… é algo estranho…
As pretenções e o sexo das muchachas são estranho nesses sonhos… E a unica constância é a escalada no ar.
O que mais enerva é o esquecimento quando acordado, só lembrando de detalhes futéis, que eu tenho certeza de ter sua comprensão absoluta mais tarde, quando dormir…


Sou um desregrado, meu telefone acompanha a onda e toca o tempo todo. Amigo trocando idéia, figura alugando, muchacha sorrindo, maletas e mudinhas… sim! Porque desde 1995 que eu sou atormentado por alguma mudinha que liga, ouve um par de alôs e desliga na cara. É quase diário, é insano! Quando estava saindo do segundo grau (em 1997), eu me lembro de receber uns telefonemas sinistros. Ela tinha uma voz deliciosa e sempre se apresentava usando nome diferente, mas era ótima.

- quem é você!?
- Ah… uma amiga de uma amiga sua…
- Do colégio!?
- Não, nem estudo lá… minha amiga sim…
- Quem é ela!?
- Não posso dizer…
- Sei…
- Sempre te vejo… queria tanto te conhecer...
- Então porque não se apresenta!?
- Você quer me conhecer?
- Porque não!?

Então sempre forçando a voz pra ficar mais sexy e atirada ela se descrevia e dizia que morava no mesmo bairro que eu…

- Então você também mora em botafogo…
- Sim…
- A gente podia se encontrar qualquer dia…
- Ué, mas você não tem namorada!?

Eu era moleque e namorava uma mina na época. A reação normal foi achar de que tratava-se de uma amiga da minha namorada me testando. Mas depois das inúmeras ligações que essa muchacha me fez no decorrer no ano, tive a certeza que não e começei a comprar uma paranoia de que devia tratar-se de uma pirada obsessiva e perigosa. As nossas últimas conversas no teleone foram surreais. De certo tratava-se de algum rolo escolar, pois essa mina nunca mais voltou a ligar e até hoje eu não sei de quem se tratava…

Também teve outras histórias bizarras, envolvendo recados em secretária eletrônica nesse ano. Sei lá se era uma conspiração ou sinais, mas o fato é que 1997 foi marcado por telefonemas anônimos e mensagens bizarras. No fim das contas no meu baile de formatura, eu olhava pra as desconhecidas desacompanhadas do recinto achando que a qualquer momento elas poderiam arrumar algum objeto afiado e… de Matias Maxx só restariam alguns fragmentos na rede…

Numa quarta feira quente de sono, insônia e trovoadas como saber se é tarde demais pra ligar!? Se você nunca sabe quando pode receber um telefonema… Blocos gigantes de gelo desprenderam-se da Antártica, pasado o rodo em navios e descaralhando as marés. Dizem que o mar vai ficar grande estes dias…

Na terça feira, como de costume fui encontrar com companheiros de militância no centro do rio. Era o dia mais quente do ano, uns 46 graus, de noite ainda era muito quente e todos suavam em bicas. Não tinha condições de levar uma reunião decente, mas como contavámos com alguns companheiros gringos na reunião demos alguns informes e tal.

Tinha um loki de Gana, rastafari e Reggaeman. Ex deejay da fluminense e puta entendedor de reggae, daí ele começa a trocar idéia com o povo e todo mundo vai prestando atenção até o cara entrar num papo de revolução linguistica. Acontece que o cara nos distribui, e prega, um manifesto que propõe a abolição da palavra NEGRO, porque segundo ele NEGRO é uma palavra inexistente no vocabulário português. É um termo criado pelos navios negreiros para chamar os escravos, e que remete a negatividade, assim como lista negra, câmbio negro… para ele, o certo seria chamar os afrobrasileiros de PRETOS, porque esse é o nome da cor, e o preto já remete a positividade ex.: ganhei uma nota preta…

Eu achei interessante, apesar de já ter ouvido afrobrasileiros dizerem “Preto é lápis de cor, eu sou negro!” e no jornalismo costumar usar-se o termo negro, ao invés de preto…
Todo mundo ficou uns instantes calados, e depois começou.

- bicho… faz sentido o que tu diz, mas aqui no brasil, geralmente o PRETO é pejorativo, enquanto o NEGRo cosuma ser a maneira certa de chamar os afrobrasileiros…

dai o cara protestou, dizendo que o negro era a palabvra oficial, e que esta remetia a escravidão e negatividade! Disse que o mundo todo tinha aboldio o NEGRO, que na Europa não se dizia mais isso, só na espanha, porque lá preto é negro mesmo. E que se você chamar um afro-americano nos EUA de nigger você vai pra cadeia

- Porra! Mas os MCs não vivem falando de nigger em suas letras???

O pessoal caiu numa discussão gigante. Não que o Africano estivesse errado, mas é que no Brasil o movimento Negro adotou esse termo, raça negra, para abolir as inúmeras definições para afro-brasileiros (preto, criolo, moreninho, mulato, cafuso, sarárá…) que vigoravam nos sensos demográficos…
Mas no final das contas, independente disso, como anarquistas tentamos dizer ao Ganense que para nós, libertários, pouco importava combater uma semântica, deixa isso pros linguistas. Que para nós, era mais importante combater o racismo, a sociedade livre é muito mais importante do que as palavras…

- Mas Deus fez o mundo com palavras MAN!

Hmmm… Estava tarde, estava quente… Resolvemos fechar a reunião. Duas companheiras do CMI de Berlim que estiveram em Dezembro cobrindo os protestos na Argentina e em seguida no Fórum Social de POA estavam de passagem pelo Rio e perguntavam onde é que a genta costumava se confraternizar após as reuniões. Disse que costumávamos ir à lapa, mas como elas tinham que voltar para a ZN de Metrô resolvemos ir embriagarnos lá pelo centro mesmo, na Uruguaiana.

A uruguaiana é aquele compexo de camelôs que vendem de tudo, de tênis “nike” a aprelhos de som de carro, fitas de vídeo digital no atacado ou games de PC ou Playstation, além de CDs, lógico! Durante a noite alguns bares operam no camelódromo, abusando da lixomúsica e populados pela nata da fuleiragem/malandragem do centro carioca. Primeiros paramos num isopor “latinha um real”, o mais longe possivel de uma musica breguissima que vinha de um sound system no final da praça.

Uma das alemãs força a vista e percebe que o sound system trata-se na real de um karaokê!!! Ela é fanática por Karaokê!! Karaokês animam todas suas saídas européias, lá existem até karaokês com sons punks!!! Ela faz parte de um grupo deamigos fanáticos por karaokê que mantêm um site (HAY CARAJO! COMO EU NÃO ANOTEI A URL!???) onde reunem fotos de Karaokes do mundo todo.

O pico era numa esquina do camelódromo, num desses bares de mesa de lata onde a cerva de garrafa é dois real, quem operava o fuleirissimo karaokê era um sujeito com pinta de paraguaio que eventualmente cantava, cheio dos macetes, sotaques e vibratos, feito um rei do mambo…

Ocupamos o bar, para a estranheza geral. Chamávamos atenção, tatuados, de moicanos, dreads, piercings, palavras de ordem e acompanhados de gringos. Estávamos em um grupo grande, então a maioria ficou na sua, mesmo assim algumas pessoas se aproximaram com mal intenção, mas vendo que eramos na maioria cariocas exxxpertos ficamos em paz. A alemã, de cabelo descolorido e arrepiado feito um saya-jin, de vestidinho, havaiana e colar de conchas assumiu o Karaokê e escolheu “My Way” do Frank Sinatra… só que a versão dela foi a do Sid Vicious… apontando para os figuras que a secavam ao redor e tudo…

A praça gelou e todos miraram os olhos e ouvidos pra cena, não entenderam nada mas aplaudiram feito locos quando a música terminou e a alemã recebu nota 70: “Você está de parabéns!!!”

Foram algumas cervas… como hoje, numa semana mais devagar que a passada mas de longe menos interessante…
Preciso descolar essa url… preciso ver essas fotos…
provas de que a vasta rede pode ser tão revolucionária quanto bizarra...

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