6.5.02

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

I cannot sleep
Haunted by your pretty body
I cannot sleep
I want the world set on fire
So many nites
Can’t keep from going down loose…

IfeelsohappywhenIseeseeseeseeyou
Iknowyoulikeamarihuanasmokey
(Manu Chao)

Ya Basta! Lembre-se à todo momento de que o mundo está a menos de dois telefonemas de casa, talvez até a um doubleclick de distância. Compartilhando arquivos e abrindo espaço para a publicação independente, seja em Blogs, E-Zines, homipeigues ou Centros de Mídia Independente a grande rede tornou a ação global uma realidade. Assim as vozes dos Zapatistas ecoam para muito além de Chiapas, maconheiros podem atrapalhar o trânsito do mundo inteiro e você pode descolar uma namorada nem que seja no Japão.

Na sexta feira uma boa notícia: o Rio Fanzine publicou minha matéria “Um Abutre na Gaiola” sobre o livro e a prisão de Gil Scott-Heron “meeeestre” segundo o guru Calbuque-Man. Como usual a matéria saiu devidamente fatiada devido ao limitado espaço da coluna e minha descontrolada tendência a falarparacaralho, mas no entanto meus queridos editores não sei se por ironia ou louvor me creditaram como “Matias Maxx é Jornalista e Editor do Zine OnLine Cucaracha”. Broders, minha mãe tava precisando disso, viu, se o Grobo tá falando que o filho dela é jornalista, então ele deve ser mermo né!? Ele não estava mentindo pra ela o tempo todo, para comemorar resolvemos ir almoçar no Oeste Selvagem neste domingo.

Daí eu acordo no tal do Domingo com a Mamy meio bolada no fone, porque um par de dias depois de publicar minha matéria o Grobo publica uma foto do Liberation Day onde eu apareço. Putz, fui ao seu encontro na maior paranóia, eu tinha acompanahdo a marcha toda ora do lado da imprensa, ora na muvuca mesmo, sempre portando a câmera e registrando tudo. Porra, será que naquela hora em que os chefes do batalão posaram pros fotógrafos, eu que estava numa posição privilegiada não entrei no quadro!? Mas eu tava com a câmera, será que foi num momento em que a abaixei pra rir da cara de todo mundo!? Sei lá, peguei o elevador e uma tiazona tava com o jornal debaixo do braço, putaquepariu, será que a foto saiu muito grande!? Será que ela me reconheceu!? Passo pela portaria e um dos seguranças FILHOS DA PUTA do meu prédio tava lendo o jornal… Caralho, se ele faz alguma gracinha eu mando alguma réplica na hora!!! Qual pode ser? Meganha!? Porco!? FILHO DA PUTA!? Até encontrar minha mãe na esquina trombei com mais umas quatro pessoas lendo jornal, caralho! Que populariedade! Mas que Nada! A foto era uma geralzona do nove, enfocando algum babaca fantasiado erguendo a folha gigante, realmente eu apareço no meio daquela centena de pessoas, do tamanho da unha do meu dedo mindinho, só Mamy mesmo pra me achar.

A cobertura do Liberation Day pela imprensa foi aquela coisa de sempre, cada veículo dando um número diferente de pessoas e todas com depoimentos prós e contras, a tendenciosidade só era medida pelo teor de cada um. Mas não estou aqui para pagar de Ombudsman mas sim para relatar os fatos. E um dos fatos é que os canas acompanharam a marcha tranquilamente, mais bolados e impotentes do que qualquer outra coisa, salvo no incidente da praça nossa senhora da paz, porém inflitraram três X9s para filmar e fotografar os manifestantes. Divulgaram para a imprensa que “identificarão os líderes e os autuarão por apologia às drogas e investigarão conexões com o pequeno tráfico”, na hora tavam falando que iam identificar e mandar prender geral, mais de 500. Bem, no máximo as fotos vão mofar numa pilha da ABIN, o novo nome bonito do SNI. A falta de liderança e descentralização do final da marcha foi alvo de crítica de um dos jornais… Puta que pariu, será que neguinho ainda não consegue entender nada!? Ou a pergunta melhor seria até quando esses putos vão continuar se fazendo de bobos???

A questão é que esse dia de ação global convidava a participação de todos e nunca mostrou nenhuma organização vertical, no entanto ao chegar levemente atrasado na praça, como a maioria dos manifestantes, notei um par de pessoas que se destacavam, discursavam o tempo todo e davam entrevista para todos os meios. Mas não eram líderes, só alguns cannabistas folclóricos resolvendo vestir a carapuça. Mas é aquela coisa né ACENDE mas também QUEIMA! A praça tava estranhissima, era um misto desses fudidos que você só encontra na madruga no Baixo Gávea com aqueles lokis sequelados que você só vê na areia da praia, acentuado por vendedores de artesanato, artistas de rua, malabaristas, coroas boêmios, enfim… Tá ligado né!? Entonces passa la pelota y uns canas entram na praça em fila indiana, obviamente sendo reverencialmente vaiados por toda a praça. Desfile infernal, os canas irnonizavam em seu passo lento, com braços para trás no estilo guarda inglês e cinismo no rosto. O comandante sorria sinicamente à frente do grupo, o meganha de trás ria histéricamente enquanto os outros meio que rosnavam. Eles subiram o monumento da praça (ocupado pelos manifestantes) sempre cercados por câmeras e vaias de todos os lados, procuravam um líder, um porta-voz, qualquer porra dessas. Um coroa desses de Ipanema que deposi descobrimos ser médico (isso mermo!? Esqueci…) chegou junto. E esclareceu todas as burrocraxias, de que tratava-se de uma marcha pacífica, da Nossa Senhora da Paz até o Posto 9. Na real parecia mais que eles tinham ido lá para pousar pra foto, porque foi a foto do comandante cercado de manifestantes com faixas, flyers, edições da revista Hemp Family (com textos do cucaracha!), baseados e folhas gigantes e outros adereços que saiu em vários jornais. Figurismo puro.

Disseram que não iam tolerar o consumo da maryjuana no decorrer da marcha, mas como era bem óbvio e também bem claro de que a polícia estava orientada para não reprimir a manifestação um número crescente de manifestantes praticaram a desobediência civil, perfumando de híbridos o sereno ar de Ipanema, para o êxtase dos boêmios e transnuentes do bairro e estupefação de um par dessas velinhas broxas que caminham no sol pra calcificar os ossos. Arriscar queimar o filme do governo do PT nas portas de uma eleição!? É claro que não, agora espionar a galera são outros quinhentos. A própria Benedita da Silva encorajou essa ação da polícia, sendo rechacada pelo próprio partido. Mas a marcha rolou, podia ter sido maior, mas acontece que o Rio ainda não está tão integrado na ação global, é foda, apesar de sua tradição boêmia e militante os cidadões só protestam nos limites do bar, só param para reclamar quando a cerveja esquenta. Quantos amigos eu não conheço que vivem à repudiar os porcos e fantasiar revoluções no íntimo de uma roda de fumo e que não fazem porra nenhuma mais que isso!? Bem, pelo menos alguns deles devem votar no Lula (a maioria só vota mermo pro Lulo sair da casa do Seu Sílvio) e pela primeira vez desde que eu nasci um FILHO DA PUTA diferente vai enganar o país.

Mas Jah providenciou com que não tivesse nenhuma abndeira partidária na passeata, o que é o bicho. Também salvo os dispostos a aparecer, não tinha ninguém disposto a comandar o ato que segiu meio autogestionado, meio descaralhado. Era óbvio que essa esquerda dos partidos e movimentos estudantils não iam colocar a sua cara a tapa, afinal eles estão mais preucupados em conservar a sua “boa imagem” perante a mídia burguesa. Tinha até ambulante gritando XKOL, XKOL no meio da passeata, mas faltou um som, não um carro de som que é um bagulho meio escroto também (autoritário e perigoso, vide o que aconteceu num protesto contra Israel em São Paulo), mas pelo menos uma percussão para entoar o ritmo carnavalesco que a marcha merecia. Sendo assim o pequeno percursso acabou sendo percorrido muito rápudo, mas mesmo assim deu seu recado, parando o trânsito e mandando peruanas pra dentro de vários carros bacanas no seu percusso rumo ao nove. As palavras de ordem eram “O USÚARIO NÃO É CRIMINOSO”, “LEGALIZE JÁ!” ou simplesmente “MACONHA! MACONHA!” revezando-se ao hino futebolístico “Sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amooooor” e o Funk “Ô Ô Ô Ô Cadê o Isqueiro!? Demorô formá o bonde do maconheiro…” do Mr.Catra (que tava lá!). A intenção inicial de seja lá quem for que estava por trás da marcha era de montar um palco e realizar uns shows no nove, pena que não rolou, mas de qualquer maneira, uma vez lá, o povo pulou para a areia, onde realizou uma roda gigante, que depois se muvucou em volta de um latão da COLURB que serviu de pódio para discursantes, desde babacas fantasiados até garotões de sunga tipoassim…

Os PMS de bermuda super a vontade lá longe, na pista do meio da Vieira Souto, enquanto alguns fotógrafos amontoavam-se no posto para pegar o povo lá de cima… A tal da foto que saiu no jornal. Uma galera esticou uma kanga onde vendiam chupschups de Mélzinho e edições da Hemp Family. Quando caiu a noite e não dava pra identificar mais ninguém o povo chapou no chão e pintaram vários ambulantes, queijinho coalho e cocada à la vonte e o povo lá, naquele meio papo, meio reflexão, meio mundinho… Lembrei que tinha impresso algumas cópias do ESPRESSO CUCARACHA, um zine de meia folha frente e verso com o I Ranking Nacional de Revistas, e uma matéria do herbifugo Tommy Tomaccio. É maneirissimo ver as pessoas rindo ou assustando-se com teu fanzine… Não tem nada igual. Zines me trouxeram amizades, contatos, tretas, risadas, paixões e AMORES, Zines me fazem feliz de estar vivo.

Depois de uma boa larica num desses picos de sucos, sanduiches naturais e pastéis gordurosos em Ipanema, rumamos num Busão pra casa. Fomos direto pra última fila, e uns par de pontos depois notamos três PMs de bermuda entrando pela frente. No meio do trajeto, paramos num ponto e um fiscal subiu pra pegar os números da roleta. Ele olhou pra nossa cara, olhou pros canas e perguntou se tinhamos ido
“à passeata da maconha”. Respondemos com as ineviteaveis risadinhas… O cara se enfureceu… “Mas porra! Pra que isso!? ME DIZ!! PRA QUE ISSO!???” Tinhamos cinquenta e oito argumentos pra quebrar o cara, mas como não valia a pena dar mole pro azar enfurecendo um fudido pagando de cagueta nos fizemos de burros e limitamos a dizer que “tavaos na praia e passamos pela manifestação… estava animada!”. X9 do caralho! O cara caiu fora e chegamos tranquilamente em casa, pra rir a toa e divagar… divagar…

No Domingo, depois de um bem sucedido encontro com a Mamy, voltei do Oeste Selvagem dirigindo tranquilamente por suas highways para o desespero dos boys apressados em seus carros poluentes. Essa parte do rio tão Miami-like desespera qualquer urbanóide do “Rio Antigo” mas particularmente me trazia algumas lembranças divertidas de sua Matriz, onde com amigos de toda parte do mundo (menos de lá) fizemos de tudo para ir na contramão e rir da cara daqueles Ianques gordos e autoritários. De volta à realidade, me dirigi para a matinê “Mansinho”, festa de Dubweise do Calbuque e DaLua na MOOG. Um restaurante bacana com um lounge bacana, que naquela noite virou uma mesa de debate sobre o surrealismo dos meios de comunicação. Eles derrubaram a Roseana e tão começando a minar o Serra, e ao mesmo tempo em que o MINISTRO DA JUSTIÇA propõe um projeto federal de descriminação ao usuário de drogas, e o mundo todo mobiliza-se contra a “guerra contra as drogas” a porra da novela das Oito faz um roteiro “antidroga” pra lá de ultrapassado. Se já não bastasse classificar os usuários de droga da novela como pessoas à margem da sociedade (enquanto os narizes de platina da mesma emissora não são segredo de ninguém) eles ainda alimentam o preconceito pequeno-burguês através dos pais dos personagens, sempre preucupados no que “todo mundo vai pensar”… Bem pelo menos o nome da novela colou no bagulho da hora.

E eles dizem que fazemos mal pra sociedade, enquanto filhos da puta de gravata no pescoço, úisque e tabaco nas veias desviam dinheiro público, usam laranjas e influência para realizar todo tipo de falcatrua e roubalheira possível. Dizem que nossa adicção sustenta o tráfico de armas que eles deixam entrar no país, escalando a violência que eles promovem em suas campanhas de repressão policial. Essa gente não é burra amigo, é simplesmente hipócrita, hipócrita, hipócrita e covarde. Mas não podem parar-nos todos, somos muitos, somos fortes e gente rude, rude, rude…

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