18.10.01

MISSIONÁRIO JUNKIE

Burrito de carne, duas micheladas e um White Russian, a única modalidade de vodka que eu encaro. De destilado só tequila e mojito, e mesmo assim mais pela estética, e cada louco com suas manias. Sempre é massa ir ao Puebla Café e gastar conversa com o Pueblo, certeza de boa larica e risadas. Nesse dia eu tava acompanhado do mamata e de lá partimos pro Teco Taco, um sinuca sujo em humaitá, na missão de descolar uns charutos pra confecionar Blunts. Uma modalidade fedorenta e forte do cannabismo.

Na saída do puebla noto que um sujeito com pinta de universiotário playboy numa mesa cheio de semilares arregala os olhos ao notar o meu cabelo, então coms os dreads fazendo angulo de 90 graus com a cabeça, e rindo cutuca a sua mina pra me mostrar como se fosse um freak show. Quando a puta, e o resto dos universiotários, viram suas cabeças pra me observar eu já tou preparado esperando-os de dedo médio em riste. Pra deixar esses manézões sem graça é pura disposição.

O Teco Taco é meio caido, mas resolvemos parar para um par de chopes, a trilha sonora era o festiva de horrores que vinha da jukebox mas pelo menos tinha uma minazinha ótima jogando sinuca, seu corpito magrelo me colocava em momentos nostálgicos, mas era melhor deixar pra lá. Eu nem lembro mais que dia era esse. Talvez domingo, porque no dia seguinte, na fiesta cucaracha torrei o maior blunt. Acendi e apareceu essa mina meio patricinha, com aqueles body decotados, busto impressionante, cabelo de anúncio e bafo de capeta (sério! não tava dando!) pedindo pra eu por um trance. Ah! Eu coloquei uns DnB safados, depois emendei com Nortec e ninguém percebeu.

Na Sexta feira dia 12 de outubro, dia das crianças e da santa padroeira, acordei as nove da manhã com o Remier na campainha, preparamos meu equipamento de video digital e rumamos pra Ladeira do Tabajara, lá em copacabana onde encontramos o DV Crew dava início a uma sessão de grafite sob encomenda do presidente da asociação de moradores (que pagou as tintas). O pessoal escolheu uma série de muros num paltô em frente a quadra com uma puta vista pra botafogo. A idéia era o Ackme fazer um painelzaço no meio, o Hare e o Nir (moleque de 14 anos lá da) fazerem outro painel e os demais muros ficarem pra molecada da comunidade, que saiu do charpi faz pouco tempo mas já esculacha nos Bombers.

O resultado foi um painel maravilhoso, com uma mina estilo popozão fumando um cigarrito misterioso, pagando meia bunda de cara pra uma favela super colorida, abençoada por uma lua no estilo Melliet e opondo-se a um menor que empina uma pipa que cruza toda a favela. O painel ficou lindo e foi elogiado por todos os coroas bebuns da comunidade, que rasgavam elogios à mulata, só teve um crente mala pra cacete que ficou falando que ia passar o rodo. Fala sério…

Durante o dia tava rolando evento de dia das crianças, basicamente gingana onde duas equipes (equipe furacão e equipe tornado) se entretavam por brindes. Na quadra rolava também uns showzinhos de samba e até de um grupo de rap local. Na gingana de Funk a Axé, isso sob sol estúpido… Pura disposição.

E as fotos ficaram lindas, e o video ficou ótimo 1h15 de material bruto, panôramincas, detalhes das técnicas usadas no grafite, depoimentos, palhaçadas... E teve também a experiência maravilhosa de tar no meio de toda aquela criançada, sagaz e humilde, respeituosa mas sempre na atividade. Sempre saindo na porrada entre si e sempre amarradonas na nossa, sem contar o brilho nos olhos e na empolgação de toda aquela molecada ao testemunhar a transformação daquele paredão imundo numa bela obra de arte ao ar livre. O duro de aturar eram os bebuns que passaram o feriado enchendo a lata no bar adjacente. Quando caimos fora, lá por volta da meia noite, já conheciamos geral com destaques para um coroa de olhos amarelos e voz gravissima que disse trabalhar na "Babilônia Limitada" uma coletiva de reflorestamento que atua naquela série de morros que separam copacabana de botafogo. Conhecemos também uma ex-xacrete dos tempos da tupi, com histórias da Alemanha e Venezuela, mó doideira. Mas mais impressionante do que essas experiências com os coroas é a disposição dessa garotada começando a rabiscar, testemunhando essa cidade maravilhosa tatuando-se pouco a pouco…

***

Depois de voltar pra casa e assistir tudo denovo lembrei que estava rolando o bota-dentro do Xotapê lá em copa. Percebi como estava queimado o que me fez refletir "caralho! Há quanto tempo eu não passava tanto tempo direto na rua, de dia!?". Uma vez lá foi muito papo e uma sessão de Suquinho Mágico do Djames, um drink que a Cissa prepara, docinho, docinho, fraquinho, docinho, mas que tá sempre tocando o terror por onde o bonde passa.

De lá parti com um jornalista pilantra e um rock star pra Bunker, levei meu último fino pronto na carteira pra não ter treta com o segurança e passei batido. Tava bem cheio e o Wilson Power tava naquele momento New Metal, perdi o senso do ridiculo e entrei na roda, balançando a cabeça mas com o pé no bate-estaca, pelo menos não tava tocando air guitar. Será o Slipknot o Kiss do New Metal? Bem mais tarde e algumas cervejas a preços extorsivos depois resolvo acender meu beque, na atividade, não tem sido problema lançar um na bunker nas últimas vezes que tive lá, aliás as últimas vezes em que tive lá foram bem agradáveis, mas tem que sempre ficar na atividade onde você já rodou e é visado.

Dai aparece esta mina filando e dançando, não demorou pra ela colar bem junto e começar a deslisar meu colar em seus dedos, achando maneirissimo e nada mais que isso. Mais tarde reencontro a mina na pista, quando já tava ficando vazio e todo mundo já tava bem doidão, ela entra naquela de dançar junto. Corpo colado nos joelhos, pelvis, peito e lábios, os braços afastados sem tocar, a língua imóvil e o inivitável espeto. Eu não sei qual era a dela, eu não sei qual é a dessa gente, eu digo que as últimas vezes foram agradáveis mas confesso que só cruzo mina maluca. Sempre amei as mulheres de atitude, aquelas que muitos playboys debíl mentais chamam de foda-fácil, na real elas só são que nem eu. Entendo aquelas malucas que ficam sempre, ficam com todo mundo, normal! Mas se não entendo as que só ficam, e entendo menos ainda estas que curtem só um sarro, dança erótica, vai saber…

Cada descontrole de minha língua era respondido com uma retaliação, ela se afastava, colocava a palma da mão no meio peito, mas depois voltava ao contato. Não lembro como a gente se separou, lembro que ela disse que tinha gostado do meu colar, mas lá pras seis da manhã (ainda amanhecia as seis da manhã) depois que pararam o som, eu me impressionei em encontrar o boteco Bem Estar II aberto (se bem que eu já bebi o amanhecer lá varias vezes) e não resisti em consumir mais uma cerveja. Dai ela reaparece, a gente troca umas idéias mas fica por isso mesmo, bah afinal ela nem era grandes coisas…

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