31.8.02

Budz´n´Buttz

São Paulo é estranha. Pessoas a um fuso horário de distância não param de falar em "Micosystem", é que por aquelas inúmeras tretas um bando de PTAs foram cancelado, incluindo todos os paulistas. Esse povo que ficou, alguns até chegaram a ir pro aeroporto de mala e cuia, perdeu a festa e se emputeceu e começou a espalhar por aí que o evento foi um fracasso, enquanto na verdade ele aconteceu por milagre, e por isso foi um sucesso. A real é que o Agosto almadiçoou geral.

Na sexta-feira dois aviões da TAM fizeram pouso forçado, nosso broder Yuka que deveria ter vindo pra sampa prum show do DUB mamute ficou em casa porque teve uma treta no coração. E o loki que tem uma clasula no contrato dizendo que "o hotel não pode ser mal-assombrado" decidiu não viajar pro Brasil. Lembro de quando o Mad Professor apareceu com a banda do Lee Perry no aeroporto de Manaus a primeira coisa que perguntamos foi o paradeiro do LeePa!

- he had problems leaving Zurich... he´s coming later!
- Like, on another flight later this night!?
- Like tomorrow...
- oh! but the festival ends tonight!
- oh!

Deu pra sacar na hora que o hustler de Kingston que virou DJ simplestemte por ter presença e aparência nervosa, e por conta disso protejer os discos, não ia aparecer mesmo. A confirmação veio ontem com essa história de mensagem almadiçoada no bilhete de avião. Pode ser que como no mundo de Pimp and Players "it´s all about money". Once a hustler, always a hustler...

Mas tem que respeitar o velinho que meteu uma Seni na fuça dos manos dos Maytals, uma cascuda banda de Ska, e disse "relaxem... você da guitarra, marca o ritmo, vou aumetar o teu baixo... a bateria junto com o baixo... isso... isso...". Anos depois não contente em ter inventado o Reggae e produzido os melhores albuns de um tal de Robert Nesta Marley, o coroa resolve pegar aqueles tapes antigos e brincar com os baixos, baterias e delays... e criou o tal do Dub...

O Show de ontem foi diferente da cabaninha emfumaçada de Manaus, onde o Professor Louco dubbou tapes e mais tapes.. Desta vez tinhamos baixo, bateria e teclados. E glorosia abertura do broder Gustavo Black Alien, num show ensaiado e fechado, desde a Ecosystem que eu não via um show do Gustavo que atualmente tivesse canções. E olha que naquele show um tava muito puto com o outro... Mas nas dezenas de outras vezes que esbarrei com ele e seu microfone era tudo fragmentos de sons e improvisação sobre um ou mais temas. Aqui o cara aprersentou um shoiw totalmente dub, com varias canções antigas e novas... Assisti junto com uma hippie lindissima, pequena, de rostinho fininho e dreads implantados. Estavamos fugindo da Babylonia e refugiando-nos cada vez mais escondidos e intimamente para celebrar a Ganja num astral I&I. Dai bem no climax a mina me manda a seguinte

- pô bicho, trouxe um bandeirão do Bob aê!!!

Dai eu percebi a idade da mina e preferi deixar o melhor pra depois, com latas e spliffs no sangue enquanto rolava "Burning and Looting" e "Chase the devil"... Um e Um, detendo o conhecimento da Babilônia e sua nova ordem mundial. Respeito! Paz! Um coração! Um amor!

30.8.02

Wake´n´Bake

Manaus colocou o povo numa sintonia tremenda. Onde um ajudava o outro por acreditar estar fazendo parte de alguma coisa importante e curtir um a vibde do outro. Não vou dizer que na produção não tinha gente que dava vontade de esganar as vezes, mas com a maioria das pessoas rolou uma sintonia correspondida na brodagem ou no carinho, porque o amor cura tudo. A trutagem acabou me rendendo o apelido de Menino Maluquinho entre a galera da equipe de Video, de maneira que acabei vindo parar em Sampa caindo na casa de um desses video-trutas. A casa além de bem localizada é super confortável e grande, o cara é um desses que abriga um pequeno museu de cultura pop na sua videoteca, inúmeros DVDs e Quadrinhos. Feita pra hospedar um bando de gente além dos dois cachorros nesta época a casa tá parecendo mais um daqueles Reality Shows da MTV, só que filmado em Amsterdã.

A rotina é tipo assim, acordar, rolar um Sensi e ir atirar e atropelar inocentes junto com o Bob Burnquist. No PS2 claro!

- Sabe cara!? Eu perdi muitas horas da minha vida naquele Tony Hawk Pro Skater, fiquei tão viciado que sonhava com aquela porra, e dai rolou o X-Games eu fui ver e tava tão acostumado com o Game que achei todos vocês uns pregos "pô, o cara só consegue dar 540? eu dou 720 mole, mole..."

- Ha! Esse jogo é foda, mexeu com a cabeça até da gente... - ri o top skater vegetariano.

Ontem, depois de não fazer porra nenhuma o dia inteiro, acabamos indo pruma balada com umovo do Greenpeace,o Mad Professor e o Sinclair (o rasta coroa, que descobri ser baterista), depois dos caras provarem inúmeras caipiroscas de carambola e babarem em cima de uma das habitantes de nossa casa, os levamos de carro de volta ao hotel. Dai a gente tá ouvindo o Arkology do Lee Perry e o Mad começa a batucar as bases nas coxas e cantaro-lar os graves, dai a genet começa o interrogatório.

- Vocês sabem... Dub music é pai de toda eletrônica. Nós inventamos o remix há mais de quarenta anos atrás. Hoje em dia dá pra se fazer muita coisa com os computadores, mas computadores necessitam sem programados, computadores não são nada espontâneos...

Dai eles pediram pra gente deixar eles na esquina da Augusta, porque a gente tinha dito que lá tinha um loja de discos boa e ele disse que queria ver a vitrine. Acabamos deixando-os no hotel não muito longe dali. Eles nos comprimentaram numa boa e nem entraram no hotel, falaram que iam "take a walk" e desceram a rua rumo à Augusta... Nem sombra de dúvidas acerca do que eles tavam atrás...

29.8.02

DE UMA SELVA PARA A OUTRA

Paz! Respeito! Um amor!
A EcoSystem aconteceu denovo! E recarregou as baterias de todo mundo, enchendo-nos de força suficiente para arrancar cabeças e saltar edificios. Não foram pouco os problemas e correrias, tampouco as glórias e prazeres, porque todos sabíamos como trabalhar. A melhor maneira de sobreviver é com o amor, o amor cura tudo.

O Greenpeace, que deveria fazer a orientação ecológica do evento, ameaçada com os boicotes ao mesmo teve de vestir a camisa e efetivamente produzir quase tudo no evento, pois qualquer vacilada comprometeria seriamente o nome da instituição, sempre patrulhada por madereiras, jagunços e políticos de merda. E ao ver toda aquela gente querida se matando para fazer o lance acontecer, não tinha como não vestir e fazer o possível também, seja servindo de babá de gringo ou catando o lixo da festa do chão.

Buscar os artistas no aeroporto exigia que dormissemos pouco, pois tinhamos que tar lá antes de meio dia. No entanto era bacana porque a maioria era super sangue bom e respeitavam a causa que carregávamos. Caras como o Bamba ou o True Master Killa não davam muito mole, mas conversavam na boa enquanto filosofavam e pregavam:

- Manaus vai ser uma das maiores cidades do mundo! Eu sou um visionário! Eu consigo ver as coisas antes que elas acontecem - dizia o True Master.

Eu tou ligado nisso também, dá pra sentir o cheiro da merda que vai acontecer daqui a um par de décadas naquela cidade. Escrevi um quadrinho a respeito. Tão assutador quanto olhar a imensidão verde da outra margem do Rio Negro era um dos caminhos do centro para a festa que só passava por todo tipo de quartel e vila militar que você pudesse imaginar, inclusive o maldito projeto SIVAM, tipo assim uma base com tecnologia gringa feita para monitorar a região pra gente, ou seria monitorar-nos de nós mesmos?

Ir buscar os skatistas também foi divertido. Eu já conhecia alguns deles do X-Games, além do Julio Feio que é um dos poucos Pros do Rio que tá sempre na nite, mas dai deu pra trocar idéia com bastante deles. Era sempre divertido ver a reação da galera ao calor infernal de quarenta graus com extrema umidade, numa terra onde não importa quantos banhos você tomar, você vai estar sempre suado. Mas onde o sexo melado e caliente é uma constante. E vem voluntária e vai gringa, todas as cores, idades e estilos. Um par de skatistas do sul reclamavam que só tinham trago moleton, enquanto a maioria só resmungava reclamando de um skater coroa que não parava de cagar regra na outra van. O cara é tão caga regra que dava pra ouvir de uma van pra outra... Tipo assim...
Mais tarde no campeonato foi a maior loucura, sol infernal deixando todo mundo passando mal e fãs querendo arrancar pedaços do Bob Burnquist. Depois que ele ganhou o segundo lugar, jogou a camisa, os tenis, o shape, a porra toda, neguinho ainda não deixava ele descer do half, neguinho queria tipo assim uma orelha, um dedo, um escalpo... sei lá... Foi nervoso! Febre na selva!

Aguardando no aeroporto também estava um grupo de entre dez a quinze Rastas locais, eles carregavam toda sua coleção de discos do Lee Perry esperando seu autografo. Nos perguntavam em qual voo ele viria, mas não faziamos idéia visto que o Greenpeace tinha mandado os PTAs pros caras mas eles nunca confirmaram o recebimento. No final acabou pintando o Mad Professor, o cantor Sinclair, o baixista cabeçudo super sangue bão e mais um Rasta coroa que até hoje não descobri o que faz. Eles são caras que emanam espiritualidade e sangue bom por todo poro do corpo. São sujeitos amáveis, coroas sangue-bom, rastas do bem.

Montaram um´puta palco pros caras, com batera, amplificadore e pick-ups. o público se espremia no palco e cameras acotovelavam-se pelos cantos quando o dub começou a contaminar o ar. Um dub bom demais pra ser discotecagem, mas onde diabos estava a banda, que até agora não tinha aparecido no palco, nem sequer no backstage (que era a pista de skate). Demorou uns cinco minutos pras pessoas perceberem que os rastas tavam lá atrás, na cabaninha que abrigava a mesa de som. O Mad tava fazendo o dub, enquanto um dos Rastas cantava com o maior estilo com um microfone estilo madonna, o baixista ficava lá do lado fumando um e exibindoi seu sorriso gigante... ah! o outro Rasta!? sei lá dele... Os Jamaicanos sabem o que fazem!

E dai tu que queria esticar pelo norte e ver umas pessoas que você ama lá perto do Caribe acaba não conseguindo fazer os contatso e magnetizado pelo dub estica a viagem do avião de volta e vai parar em SP na casa de um video-truta super milgrau que tu conheceu lá. A casa é confortável, e o cheiro do reggae tá sempre no ar... A cidade é horrorosa mas tá pra ser tomada por quatro dias de dub... ontem teve o Bamba com Sano, Speed, Max e outros rimando...
Massa... Massa...

24.8.02

motherfuckin M A double X in da house!

O monoteismo condicionou-nos a acreditar no MAL e no BEM, de maneira que se alguma desgraça acontece você pode por a culpa no maldito do cramulhão ou perguntar-se - porque deus deixou isso acontecer? No final das contas a coisa é bem mais complexa do que essa bipolarização, mas uma coisa é certa, o pensamento positivo te conduz pelo CAMINHO DO BEM! Enquanto a negatividade só te fode e destroi... Forças fo mal extremamente poderosas entram no caminho do bonde do BEM, debilitado e pequeno, mas cuja Vibe consegue superar qualquer treta e fazer as coisas acontecerem.

A Ecosystem deste ano não tem a mega-produção e os alucinógenos do ano passado, mas tem uma Vibe muito poderosa. O evento do ano passado certamente acertou a cidade com uma marretada. Neste ano o público só não é muito maior do que o do ano passado, como muito mais antenado. Há menos grana e apoio de fora, mas muito mais boa vontade e garra vindo de todo mundo que está envolvido do projeto, da produção ao artista. A cidade transformou-se, hoje existem várias produtoras tocando o movimento eletrônico na cidade, que como não podia deixar de ser é predominantemente JUNGLE. Acabou de voltar de um workshop da Amazônia Tribal, que tem um terraço onde rolam happy hours e troca de idéias/conspiração. O mundo é guiado pelos filhos da puta do MAL, mas disseminando nossa informação e boa vontade, chegamos muito longe e movemos muitas, muitas paredes...

PAZ e RESPEITO!!
O CHAMADO DA SELVA

Definitivamente leva tempo pra cair a ficha. Leva tempo pra você perceber a magnitude de um evento, quando você finalmente se dá conta que está numa estrutura fudida no meio do mato, vendo DJs e MCs do mundo todo te presenteando com o que rola de mais foda no universo Jungle-Dub a primeira coisa que te dá vontade é de sair ligando pra todo mundo que você conhece.

- Cara! Pega um avião e move your ass up here!!

Me colocaram num quarto do Tropical com o Brian, um loki de dreadloki que atende pelo nome de DJ Walking Stick, vem da remota cidadezeca de Pittsburg, Pensilvania e põe um Jungle Old-School de primeira, com muito Ragga e Dancehall embutido. Como são poucas minas pra tanta produção, e a minha credencial é de produção, os gringos todos me tiraram de babá, o que é legal por um lado mas chato por outro. No final o que fica é uma confusão só na cuca, e você não sabe mais em que idioma tá pensando. Quarta feira buscamos o Bambataa no aeroporto, assim que o cara desembarcou, notei que o neguinho com cara de figurante de filme Gangsta era estupidamente familiar. Claro!! Era o MC Sano, um loki de Santo Domingo que eu conheci em NYC num show do Delinquent Habits! Na ocasião ele ficou animadissimo por conhecer alguém do Brasil, porque ele queria conhecer nosso Rap e aprender a rimar em português. Na ocasião falei pra caralho do Hip Hop Rio, que o cara vai poder conhecer um pouquinho hoje isto é, se alguém aparecer, supostamente D2, Bernardo e Gustavo devem tar pra vir hoje. Mas as coisas estào bem confusas.

Ontem os Britânicos dominaram o pedaço, o figurissima MC Fun rimou durante umas quatro horas sobre as batidas graves do meu Buddy WalkingStick, e em seguida os outros Ingleses como Dr Caché e L Double do Urban Takeover crew. Depois de surpreender bastante rimando sem parar, descendo do palco pra se misturar na platéia e pulando que nem um louco nem dava pra perceber o quão chapado o cara estava de cerveja e o patchuí que eles chamam de maconha por aqui. No final, quando o Mario Z invadiu o micrfone pra representar o DnB do Rio o tal do Fun chega pra mim e pede por favor - Take me back to the Hotel.

Fui escoltando o cara da maloca Jungle até o estacionamento, onde tive de rebolar pra descolar uma Van. No caminho o cara parava pra falar e apertar a mão de todo mundo sempre pedindo pra que "Save the AMAZON MAN!" e cantarolando o clássico de Cindy Lauper

Girls just wanna have fun... yeah! Girls they wanna have fun!
O site da PLAY publicou uma pequena reportagem sobre os preparativos da Ecosystem, confiram para saber um pouco mais do sem fim de tretas que envolvem o evento.

http://www.pl4y.com.br/materias/ler.asp?id=52092



Matias Maxx bate altos papos com o padrinho do Funk.
"A gente ganha mal mas se diverte!"

22.8.02

O Greenpeace é assim...
Um escritório do caralho com uma verdadeira Bat-caverna na garagem (barcos, botes, blindados e afins por toda parte), várias colegas estilosas, simpáticas de tattoos e dreads, um povo sangue bom, rango bom, colegiais voluntárias e muito, muito, muito trabalho nesta terra nortenha onde por mais banhos que se tome você vai estar sempre suado.

Fazendo de tudo, desde buscar o Afrika Bambaataa no aeroporto (e vir ouvindo um papo completamente conspiratório sobre as influências da família Bin-laden na Harvard e várias corporações, além das teorias de que o Egito antigo era porto de ET) até ajudar a catar o lixo do pico do evento.

Não dá nem pra acreditar que em algumas horas vai estar acontecendo a EcoSystem 2.0, diferente do ano passado, quando o governo injetou uma verba parecida com a de Parintins (o maior e mais tradicional evento da região) desta vez é uma caça as bruxas só. Além do boicote vindo de todos os lados, empresarias e governamentais ainda rola uma patrulha na imprensa, acusando a ecosystem de ser um evento que promove o uso de drogas, incita a violência e causa impacto ambiental. Criticas plantadas por uma ONG de fachada que na real quer promover seus eventos de forró na mesma estrada do pico do greenpeace sem concorrência.

É incrível e triste ter de admitir que os Manauaras em geral tem pé-atrás com o Greenpeace. Mas visto os poderosos que estes ambientalistas enfrentam é de se compreender o medo da população, os carros blindados e todas as cameras pelo escritório. Cadê o Capitão Planeta pra nos proteger!?

20.8.02

Agosto de 2002. Matias Maxx está prestes a fazer 22 anos, prestes pra viajar atendendo o chamado da selva. A maior parte do território e população mundial está no hemisfério norte, portanto morar no sul do mundo é um previlégio pra poucos, apesar daquela tirinha da mafalda onde Guille observa o globo e descobre que estamos de cabeça pra baixo – por isso as idéias nos caem – reflete a muchacha mais nervosa do mundo das Hqs.

Mafalda era uma gordinha cabeça dos anos sessenta, tão contestadora quanto inocente. Mais que um personagem, todo um espírito, um sentimento que independe de idade. Por Quino, Mafalda nunca evelheceria, o problema é que os tempos mudaram. Os tempos mudam mais rápido do que nunca. Mas espíritos e sentimentos permanecem, não se podem matar idéias porque são a prova de balas. Ainda dá pra namorar aquele idealismo sabroso ao som de um violão sob aquele horizonte estrelado do sul do mundo. Aqui há um povo que carrega a música em seu sangue, como o herói que os filhos da puta nunca vão conseguir calar.

Questionador e aventureiro sempre me dei bem sozinho. Na minha compania, Matias Maxx já conseguiu ir muito longe, e se divertir bastante no caminho. No entanto ninguém sobrevive sozinho, ainda mais nos dias loucos de hoje.

Tem um ano que eu abandonei o inferno corporativo que enchia meus bolsos de lúxuria e ganância, e fazia meus cabelos cairem de estresse e meus nervos descontrolar-me. Eu tava progredindo, abraçando meu sonho, estava colaborando com uma revista de música que viabilizava meus contextos e me dava uns trocados. Acreditava que do jeito que ia em um ano ia tar muito bem, não de grana, mas de contextos. Pela BiZZ cobri um freejazz, o rockinrio e um abril pro rock, além de desovar várias idéias legais, com o final da revista o que sobrou foi a lorota. Com um par de e-mails e telefonemas bem intencionados consegui a bocada do milênio – ia viver de perto a loucura que seria a tal da “rave na floresta”. Mesmo que não tivesse meio algum pra colborar.

Na insólita aventura na selva eu não tava sozinho. Tinha toda uma fauna de amigos e conhecidos como a Maíra, Bernardo, Pedrão, Zé, Gustavo, Speed e os Inumanos além dos “n” malucos que conheci e reencontrei por lá. Ha! É bom ter marcos para você ter a noção de quanta coisa acontece em um ano.

Fiz uns clipes, um vídeo com alguma repercussão e vários freelas que me divertiram mais do que pagaram e repercutiram e outros que repercutiram e satisfazeram mais do que pagaram. É a sina do terceiro mundo, não que um esteja sendo ganancioso, mas é que tem uma família toda te cobrando por trás. A roubada do ano na real foi entrar no fuso horário da sony, digo do japão, nessa de copa do mundo e tony hawk pro skater. Só serviu pra atrasar a coisa toda.

Conheci o Gaiman e tive a certeza que posso ser um puta roteirista de HQ… tou Elaborando uns roteiros mas a Son… digo o nippon atrasou bastante… Meus desenhistas também são talentosos, mas não aquele exemplo de velocidade e plavra. E o mundo é um ligar complicado demais… os computadores também não colaboram muito!

Computadores fazem arte!? Artistas dinheiro!? Por favor…

O ano passa e mesmo num mundo que só se atrasa e bagunça tu consegue dar vários passos, mas nem tudo sai como planejado. Tava naquela onda de aproveitar o calor, feito uma planta que tu coloca num regime de 24 horas de luz pra ela ganhar força e florescer mais rápido. Pulando de um hemisfério pra outro eu poderia viver um verão sem fim e uma sintonia do caralho com o mundo. Internet faz as distâncias mais curtas, um par de e-mails fez com que Brian me mandasse um álbum duplo do Sizzla mais seis compactos Jamaicanos com Raggas fudidos de um lado e Dubs malucos do outro e mais um LP antigão do U-Roy, um rasta coroa comum assistente anão que canta pra caralho. Rizzo me mandou um CD com centenas de MP3 e belas surpresas por dentro, sementes pra toda uma geração de loucuras.

A Maíra, minha aliada no Greenpeace me botou em contato com a Tica, que me descolou um trampo de fotógrafo pra EcoSystem deste ano. Fazer as fotos de divulgação das atrações do festival, o campeonato de skate e todo o making off. Ralação que certamente vou encarar naquele estilo… Aproveitando que estes dias tou romântico…

Eu amo esta vida. Eu fui feito pra viajar… Me atirar de cabeça. Lembro daquela primeira vez que viajei com meu avô. A passagem era de econômica, mas ele mandou um KO, tinha area de fumantes naquela época, eu fiz cara de asmático e a Varig colocou a gente na primeira classe onde serviam sorvete Hagen Daz e o caralho!

Um ano passa, um ano que você decidiu viver de um jeito. Do jeito certo pra viver, dando nós na cabeça e cagando pra todos os maus olhados. Ganhando dinheiro de cueca e viajando dentro de cabeças, maquinas, estradas e correntes de ar. Tudo vale a pena, porque nada me faz pensar que o passado era melhor, o presente sempre supera tudo.

A partir de amanha tou na missão.

10.8.02

WORKING CLASS HEROES

"Banditismo por questão de Classe"

Já estava arquitetando o cocktail de lançamento do meu vídeo que faria com a grana do Fantástico quando fiquei sabendo que depois de um telefonema do empresário da banda, a emissora desiteressara-se pelo material. Passei o fim de semana a bangu, deixando essa porra pra lá. Fiquei meio puto só porque o mesmo programa já tinha passado uma imagem do Hebert há um ano atrás onde ele aparecia bem debilitado tocando numa clínica. Agora que ele estava são, recuperado e feliz da vida encantando uma platéia emocionada eles quizeram proteger a imagem do cara. Bem, me disseram que o tal do empresário é sangue bão… Tipo de coisa que rola por falta de comunicação.

Dai na segunda feira eu e Rabu invadimos a casa do Marcelo Camelo. O Los hermanos foi uma banda que eu acompanhei bem de perto, estudavámos na mesma faculdade e a galera dos Hermanos era a única com quem eu me identificava no meio daquela futilidade toda. Pelo menso era gente que habitava meu mesmo universo. E naquela época eu cruzava a cidade no carro do rock atrás dos caras, coletando material fotográfico exclusivo que pode ser conferido em parte no site dos caras. Eu conheci o Camelo pelo Alex, eles fizeram fanzines com muita empolgação durante bastante tempo, até que um dia resolveram tentar vendê-lo por um real para pagar os custos e ninguém quiz comprar. O cara se frustrou e resolveu virar músico, experimentando algo totalmente inédito que ele descobriu assistindo o Acabou La Tequila – Que você podia fazer rock, e colocar samba no rock, e colocar latinidade no rock, e se você fizer direito e ser autêntico, sem medo do que vão pensar nem pretensão de ser o que não é… você tá feito! E dai o zineiro frustrado vira músico de sucesso.

Mas a banda que estourava no underground como um hardcore que falava de amor chegou na grande mídia como uns caras do hardcore que tinham estourado uma música de amor. E muita gente demorou pra engolir-los, enquanto aqui no rio todo mundo tinha acompanhado a trajetória e tinha tanta certeza de que a banda podia bem mais que Anna Júlia, que também era autêntica. Foi legal que nessa entrevista o cara conseguiu se soltar e falar de tudo isso. Riu do circuito que encararam de programas de auditório de playback “que é algo muito escroto, mas que não se pode criticar, porque efetivamente ajuda a banda iniciante. Se você acredita que seu som é bom, e se recusa a participar de um programa desses, você tá impedindo que o nível do programa se eleve!!!”. Quando voltei pra casa animado, fiquei sabendo qual seria a missão da manhã seguinte, visitar o Instituto Correcional Padre Severino com o Inumanos. Ótimo! Cagando pra hora que teria de acordar fui zoar na maldita, e quando já tava bem tarde, encontrei com o Lariú e ao confirmar o horário que tinhamos marcado para a entrevista pra MTV no dia seguinte, lembrei que tinha prometido preparar uma fita pra ele. É que o cara tá fazendo uma matérria sobre minha produtora, a Tarja Preta Terrosimo Editorial, e sobre o vídeo que tou fazendo com o Rabu, dai eu tinha que entregar uma fita com algumas imagens pra ele… Cheguei em casa tipo umas cinco… e fiquei capturando, cortando e editando material até umas sete horas…

Lá pelas dez, Aori, Babão, um Angolano Islâmico e um Rasta coroa estavam esperando-nos numa Kombi estacionada em frente ao prédio. Partimos sonolentos até a ilha do governador, onde está localizada a casa de detenção para menores delinquentes conhecida como Padre Severino. Uma assistente social sangue bão amiga do Rasta estava envolvida em algum evento que rolaria no instituto e convidou os Inumanos para fazer um show lá. Passamos tranquilamente e sem revista pela casa protegida por vários PMs de colete e fuzil até chegarmos a uma area aberta, de um lado um gramado isolado pelos altos muros, onde os moleques ficavam, alguns organizados em fila indiana e outros mais a vontade. Do outro lado havia montado um PA onde uma banda de pagode tocava para a diretoria do instituto, acompanhada de delegações de políticos, ONGs e secretarias de não sei o que caralho. Haviam umas mesas com fartura de frutas e pães preparados pela padaria do reformatório, além de galões de café da manhã. Os moleques, de todas as idades, mas a maioria bem novos atacavam as mesas em grupos, num misto de empolgação e cautela. No entanto, em um determinado momento um bonde de moleques entre 15 e 17 anos (que mais tarde viriamos a saber que eram do Terceiro Comando) jogou frutas nuns moleques bem pequenos, de uns oito anos (que era do Comando Vermelho). Antes que alguma confusão começasse funcionários discretamente poram ordem na casa, organizando a saída em grupos da molecagem de volta para a carceragem. O que esperávamos que fosse um evento pra levar Hip Hop para a molecada incarcerada logo tornou-se um evento pra porra da diretoria rica.

Os Inumanos deixaram logo claro de que tinham ido lá para tocar para a molecada, papo vem e papo vai e logo montaram um PA no pátio interno da casa de detenção, onde os moleques esperavam sentados, organziados em longas fileiras de meninos quietos que por um momento me lembraram a escola. Mas o teto tinha buraco de balas (resquicios da última rebelião “controlada”) e as paredes inúmeras pixações e insignías do Comando Vermelho. No chão perto de onde montamos o som havia o desenho de uma AK-47 detalhadamente talhada no chão. Assim que os carcereiros acalmaram, depois de um esporro na molecada, estes arriscaram uma aproximação.

- Tu fuma maconha né!?
- Que que tu acha!?
- Ahhhhhhhh!!! Tô ligado! Aperta aqui!!!

Dai quando eu aperto a mão do moleque de uns dez anos ele chega bem no meu ouvido e diz

- Descola um fininho aê…
- Tá maluco moleque!? Tu acha que eu quero ficar por aqui!??? Quer dizer! Sou maior! Dou um mole desses e vou parar em Bangu!!!

Dai quando Babão terminou de montar o som meteu logo um Racionais, e os carcereiros liberaram os moleques que se levantaram num segundo, por um momento deixando a bandidagem de lado e entregando-se a um espírito juvenil que por momentos deixou aquilo parecendo um animado recreio de colégio admirável em sua caótica inocência. Dai Babão vira do Racionais pro 509-E, a banda do Afro-X, ex-detento e pai da filha da Simony, aquela ninfeta da TV que fez a cabeça de geral durante a infância. Que pouco importa de que apenas um ou outro por ali teriam idade pra lembrar da Simony, o que importava era a fria poesia penitenciária do cara, e sua brilhante volta por cima, regenerando-se através do Hip Hop e realizando a fantasia de toda uma geração como prêmio. Dai que todos eles repetiam em voz alta os versos e refrões do cara, com a emoção de quem está no show de sua banda favorita.

- Cês são da Lapa né!? Tamo ligado!!!

Dai Babão mete a base de “A Batucada” do MD2 e começa um set de turntablism fudido, mandando altos malabarismos com as batidas e as mãos, virando de costas e levantando as pernas que nem na velha escola. Os moleques prestam atenção em cada movimento boquiabertos, urrando e batendo palmas. O público da barra pode pagar as contas do Hip Hop carioca, mas é energia como a dessa platéia que impulsiona o movimento. Logo entra Aori mandando Brutal Crew, instigando a molecada a “fazer barulho”. Em seguida o Angolano manda um som e finalmente Aori encerra o show com Polegar Opositor. Só três músicas, é que agora que os detentos tavam empolgados a diretoria e em espcial o PTista Pitanga aproveitavam a brecha pra falar no microfone.

- Eu já fui um Capitão da Areia como vocês! E acabei num colégio Interno, parecido com este, mas lá me esforcei e aprendi todas as profissões. Carpinteiro, torneiro mecânico, padeiro, alfaiate (…) E hoje tenho dois filhos atores, um é aquele negrão forte que vocês vem na novela, e a outra é a bela Camila Pitanga que todo mundo conhece…

Puta que pariu… Ninguém precisava daquilo… Dai fomos nos misturar na multidão, onde salvo os calouros mais novos e desesperados que se amontoavam na frente, prestando atenção no político na esperança em que a diretoria notasse sua boa indole de garoto do bem e aliviasse a sua pena, a maioria dos moleques estavam lá atrás fumando cigarros e tentando disfarçar a cara feia…

- Escuta… Esse papo que o cara tá falando é legal… Mas tipo assim… Têm alguma coisa dessas aqui!? Tipo, eles te ensinam alguma coisa? Tem aula? Curso profisionalizante essas porras!?
- Rapá! Isto aqui é escola do crime! Cês saem daqui e eles voltam a dar porrada na gente!!!

Vapores Baratos, trombadinhas, pivetes, meninos de rua e ladrõezinhos de sinal. Gente que podia tar me vendendo um baseado ou metendo um caco de vidro na minha mãe, todo mundo junto e aprendendo a odiar.

- Só não perdoamo estRupador e assartante de ônibus… roubá trabalhador é sacanagem!

Chegamos dando a idéia de que eles tinham que entrar na onda do hip hop, que dai talvez eles tivesse uma alternativa quando voltassem à favela. Algumas assistentes sociais tinham projetos para montar oficinas e competições de Rap entre os detentos, o pessoal do movimento estava disposto a ajudar, bastava agora seduzir a diretoria do instituto preucupada mais com o bolso do que eventualmente tratar de seus detentos. Sugerimos que apenas com a união e cooperação dos detentos, conseguiria-se fazer pressão na diretoria pra esses projetos bombarem…

- Acontece que tudo que requer união aqui é dificil, é dificil… Você viu o que aconteceu lá fora! Tem sempre uns babacas que não tão dispostos a colaborar! Isto aqui é escola do crime! Não rola união! Bangu controla tudo! Se em Bangu ficam sabendo que a gente (o Comando Vermelho, facção da molecada com quem dialogávamos) se juntou aos Alemão (os Terceiros, minoria na casa de detenção), pra que favela a gente volta depois!??? O Rio de Janeiro é assim… O que que a gente pode fazer!?

A merda do crime organizado do Rio de Janeiro, que aterroriza a sociedade conivente e facilita o trabalho da polícia, realizando a limpeza étnica-social que eles querem e fomentando uma corrida armamentista simgular. Porque os comandos e estados paralelos já detem armamento e logística pra sitiar a cidade quando quizer, mas perde seu tempo em tretas de gangue e território tão remotas quanto as disputas tribais.

- A gente fica com raiva! Muita raiva! Daí a gente quebra tudo! Faz rebelião e quebra a porra toda! Quebra mermo!!!
- Mas daí a policia chega e desce a porrada em vocies…
- Ah! Mas porrada a esta altura é massagem…

Você têm uma casa, família, Internet e pelo menos um segundo grau completo e não precisa ter passado por muito perrengue pra se revoltar, basta assistir as notícias com um minimo de senso critico ligado. Agora se você passa pelo que esses moleques passaram, você não tem muita alternativa de qualquer maneira. Acontece que essa galera não sabe nada sobre Che Guevara, Baader-Meinhoff, Carlos Chacal, os Feddayen e os homem-bomba, eles só tem o conhecimento de que podem muito fácil e muito rápido engajar-se numa vida de aventura e suicidio. A diretoria, por trás do sorriso hipócrita escondia o nojo e a sensação repugnante de poder estar de frente ao Elias Maluco ou Beira-Mar de amanhã, enquanto eu e alguns poucos tinhamos a certeza de que através do Hip Hop a gente possa tranformar alguns desses num Afro-X ou até num Thayde de amanhã. Bastava um pouco de empenho e aceitação. Sei lá, mas é que se não fosse por essas merdas tribais, a gente podia focalizar aquela raiva toda pro inimigo comum e real, a nova ordem mundial que quer transformar o mundo na utopia da classe média, onde toda a produção é voltada pro consumo e os indesejáveis são jogados no saco. Já estive em presídios e notei o poder de penetração e dominação das Igrejas, tão malignas e gananciosas quanto as facções. Ali não tinha religião, provavelmente porque menores não são bom negócio, então se a gente conseguisse pregar com os quatro elementos lá dentro, talvez daqui a uns anos tivessemos mais gente no microfone e menos no fuzil. Porque Hip Hop não é só o Rap de merda que você dança no fim de semana, é poesia, música, expressão corporal e visual. É sampleando o D2 “a sabedoria de quem não precisa resolver mais no tiro”.

Dai desmontamos o equipamento e voltamos pra Zona Sul. No carro o Angolano contava que na sua terra o pessoal via nas novelas um Brasil maravilhoso, onde não existiam problemas e todos os negros eram chiques e respeitados. E quando ele chegou aqui, assustou-se com as favelas, que ele diz não existir na Africa, mesmo com toda a miséria que dizem a respeito da Africa. Porque lá é um lugar onde o homem vive muito mais em paz com a natureza. Seu discurso era lindo porém as vezes sua religiosidade esbarrava em alguns dos meus ideais anarquistas, mas eu não queria discutir, estava interessado no papo e ainda pensativo na experiência com os menores.

Naquele curto período no meio da molecada fui sobrecarregado de narrativas e experiências que agora tanto me empolgavam como despertavam um sentimento de culpa burguês, aquele mico de quem visita o zoológico. Como naqueles vários contos do John Reed onde ele ou outros intelectualoides pagavam bebidas a putas, mendigos ou bandoleiros em troca de inspirações e o sedutor contato com a marginalidade. Imagino que aqui no Brasil ele levaria várias voltas, visto que não precisa ir muito longe pra ter esses contatos, apenas o signos certos pra conseguir neutralidade, e ouvidos para captar o que esses tipos gostam de falar. Porque aqui, quando você sai sozinho a noite nunca sabe se vai cruzar com uns playboyzitos fascistas com inveja de tua vida loka e pau grande, se vai levar uma geral e canelada da polícia ou assaltado por um cheirador qualquer. Me fez lembrar do episódio do intervalo do Brasil e Alemanha quando fui fazer fumaça na beira da praia de copacabana, onde assistia o jogo num telão cercado de câmeras, gringos, banhistas e meliantes. O sol rachava meu coco quando um sujeito de calça jeans e sem camisa muito marcado pela vida se aproximou pedindo uma bola.

- Vim de Cabo Frio…
- Lá é bom… Altas praias…
- Pois é… Mas Tive de ralar de lá rapá! Os caras queriam me pegar!
- Os canas!?
- Não… uns filhadaputa lá…
- Que merda…
- Agora eu moro aqui, nóis tudo dorme na praia…
- Ah!
- Não é fácil não… Aqui no Rio não é fácil pra ninguém… A gente passa fome! Necessidade! Os gringo vêm aqui denoite… perde mermo!

Hmmm… O papo tava começando a ficar pesado, e eu não precisava de toda essa negatividade, não com o Brasil prestes a ser campeão, quando eu já ia desviar o papo para algum debate fútil corrente como “Rivaldo ou Ronaldo?” somos interrompidos por três “amigos” de cabelo descolorido, jóias grandes e indumentária vermelha.

- doizinho aê sanguebão!
- O beque é dele!
- Fiquem a vontade…

O papo tinha tudo pra piorar, mas bandido safo é bandido quieto e os caras partiram depois de uma rodada sem dar um pio, só saudando.

- Fé em Deus!
- Valeu! É nóis!

Dai o outro recomeça….

- Então… Eu tou só dando um tempo…
- Pra que!?
- Eu não aguento aqui não cara!! Passando fome!!! Lá em Cabo Frio eu tenho casa!!! Aqui nada!
- …
- Eu tou só dando um tempo… Eu vou descolar uma arma e voltar lá, matar todos aqueles filhosdaputa e voltar a ser um cara tranquilo. Lá é o meu lugar!!!
- Porra… derepente o Rivaldo faz dois gols e é o artilheiro da copa… Já pensou!?

O Rio é assim… Um jornalista disse que se o Rio ficou assim é culpa de todas as pessoas que consumiram alguma droga nos últimos trinta anos, e que todos nós matamos Tim Lopes. Eu ainda acho que foi o “mole” ou a “função” de ter ficado muito visado, porque sabia-se que é um jogo arriscado, e sabe-se muito bem as regras do jogo no que se diz a respeito de caguetagem. É uma lástima ver toda essa garra iludida por gangues sanguinárias numa luta ilegitima dessas, é triste ver tanta violência empregada sem razão. A gente fica puto quandoos caras fingem se impressionar quando acharam mais de vinte caveiras antes de achar Tim Lopes e tu não acredita como tem playboy que sabe disso tudo e ainda sai de casa cheio de marra pedindo pra levar um tiro.

Chegamos na MTV, e a garra venceu o sono e dissemenei o Terrorismo Editorial no microfone, mandando declaração de amor para diretora de programa, detonando a mídia corporativa e levantando a bandeira dos indenpendentes ao narrar a história das inúmeras vezes em que ignorado pelas assessorias de imprensa e produção tive de armar “esquemas” para cobrir eventos e mais tarde quando publiquei o trabalho as mesmas pessoas que me ignoram vem babar o ovo.

- Nossa! Adorei! Como você conseguiu?

É um planeta estranho o nosso. E eu falava feito um Fidel Castro empolgado pelos sorrisos da atenciosa platéia de colegas de profissão que muitas vezes me viram em ação (e embarcaram na vibe). Acima de tudo o que tentava dizer na matéria é que “televisão eu também faço!” ainda mais nesta onda atual de reality shows e casa dos artistas… Mas acabei me enrolando demais na onda do Dogma, o 95 e o 1,99. Alguém por aqui viu o heróico Fucklands!? E “os Idiotas Mesmo”? Bem… São referências dos respectivos gêneros.

A matéria deve ir ao ar na semana do dia 15/8 no Drops-Rio da MTV, lamentavelmente só vai passar a matéria no Rio. Mas a Tarja Preta tá aí disseminando-se feito vírus. O terrorismo editorial já foi feito! Imagina no dia em que só os malucos povoarem a terra!? Testemunhando aquela vivência que é melhor que qualquer ficção ou jornalismo, contruindo a história das próximas gerações, sem medo de nada. Saindo de lá, fomos a pé até o final de copacabana, enfrentando uma tempestade de areia no calçadão e cruzando dentre as várias figuras, com uma coroa de shortinho que deixava de fora a vasta enorme bunda de textura similar ao maracujá.

- Deus do céu – blasfemiava um malandro transneunte.

Chegamos no bacanissímo apê de Gabriel Thomaz onde nos divertimos pelas horas seguintes fuçando sua vasta coleção de LPs e Compactos em vinil. Com inúmeras raridades e bizarrices de todo gênero. Galera… Esse video vai ter o sabor…

Uns no som, uns no video e outros na fita. O que faz os heróis não é só a origem humilde como o ciclo todo. É trabalhar pra melhorar e fazer a história, não acredito em competição mas quero ver todo mundo se esforçando pra elevar as coisas a outro nível. Outro dia eu estava na area do empório, posto nove, berço da supostamente transgressora juventude transviada (e maconheira) carioca. Estava fazendo o que era pra se fazer, quando um bonde de cinco desses pit-boys, desses que se se comem em frente ao espelhos das academias, tomaram e esfarelando nosso baseado, achando estar fazendo uma ação de cidadania ao tomar as dores da polícia. É triste ver a que ponto de mediocridade essa gente chega se fascitizando por falta de opção. Todo mundo achou que a coisa a se fazer era fugir… dar o fora no sapatinho, mas como Matias Maxx não abaixa a cabeça pra Playboy invejoso ficou á parado, desafiando como um Tyler Duren espancado pra cativar a platéia. Mas como esperado, os playboys eram covardes demais pra brigar, mas a platéia, de metaleiros, alternativos, ravers, clubbers e “alternativos” do posto nove nada mais fez do que se assustar, ao invés de tomar alguma posição.

No final das contas, o debíl mental só conseguiu me dar um soquinho de merda. Quase que na testa que eu facilmente bloquiei. Dai em seguida, como que ensaiado, um amigo o segurou.

- Fica calmo Gracie!!

Era obvio que o cara não ia tentar bater mais. Esses caras que só andam em mulão, geralmente nunca apanharam na vida e não sabem brigar for a do tatame. Sabem provocar mas não tem iniciativa nem desenvultura numa briga de verdade. Que pena que tava em maioria e tudo que eu podia fazer era jogar com as palavras e animar o circo.

- Você acha que eu tenho medo de playboy!?

Nos afastamos…Muito puto, como é que alguém pode assistir Jornal Nacional e sair com essa marra toda na rua!? Provavelmente nunca apanhou na vida, mas você engana as pessoas as vezes, mas não dá pra enganá-las o tempo todo. Então ele é Gracie!? Ou é apenas um apelido de academia!? O último Gracie cheio de marra acabou estirado em frente a uma boate com um tiro no peito… Deu notícia.

1.8.02

NADA COMO UM DIA
APÓS O OUTRO…

Acordei super-disposto para mais um dia de gravação de “ Adivinhe quem vem para o jantar” o video gonzo-dogma 1,99, que tou produzindo com o Rabu, misto de pegadinha com reality show e o bom e velho comando da madrugada. O roteiro do dia era invadir uma Vernissage de um artista que eu nunca tinha ouvido falar e depois ir pro show do Reggae B, banda idealizada por Bi Ribeiro que conta com o mestre dos freestyles Gustavo Black Alien.

Fiquei sabendo depois pelo jornal (porque os dois eventos sairam no jornal… pra tu ver!) o artista era o Flávio Colker, fotógrafo e videomaker com várias bandas no curriculo, ah então por isso que o evento tava num esquema museu do BRock 80. O MC Rabu Gonzales (ex-Speedy Gonzales e ex-MCs HCs agora no projeto Lato Crespu) que é o apresentador do vídeo o tempo todo entrava na galeria, entre uma cerveja e outra e se posicionava de maneira que eu enquadrasse a Marina Lima ou outra gatinha. Lá pelas tantas resolvemos avançar pra cima da Paula Toller, simpaticissíma e bela como um vinho tinto, que terminou entrevistando-nos e apoiando o projeto.

- Jornalistas podem ser bem desagradáveis…

Frizando o PODEM, lógico. Rumamos do Jardim Botânico até o Ball Ruim, descendo o bairro a pé, turbinados pelas muitas cervejas na faixa (os garçons não pareciam tar querendo trabalhar, e ficavam circulando sem parar, de maneira que tinhamos de nos apressar pra beber também). Depois do tumulto pra invadir a casa, finalmente o show começa e descobrimos que teriamos a participação de grandes astros dos anos oitenta na parada.

Além dos Raggas entoados pelo vozeirão do Gustavo Black Alien rolou o Dread Lion cantando algum cover obvio do Marley (fugindo da intenção da banda que era de tocar lados B, como Sizzla, Lee Perry e outros), Nando Reis atacando de “Punky Reggae Party” e “Quero meu sangue” (sua versão do clássico Harder They Come do Jimmy Cliff), Jorge Israel nos metais e um freestyle com Don Negrone do 3Preto (grupo de rap carioca também conhecido como “3Preto no Mínimo”). Daí quando a fita e a bateria da câmera tavam pra terminar a chegada do Hebert Vianna é anunciada.

A esta altura o João Barone já tava na bateria, com o Hebert lá na frente, de cadeira de rodas, guitarra e impressionante bom humor e emoção. Juntando com a galera dos Naipes ( dentre eles broder Bidu) e o Fera nos teclados tinhamos praticamente um show do Paralamas, lá pelas tantas o Dado-Villa Lobos também invadiu os teclados. Hebert começou atacando com “A Novidade”, animando pacas a platéia. Em seguida uns covers do UB40 e “Meu Erro” (uma das únicas músicas que me marcaram mesmo nos anos oitenta, quando eu não tinha nem dez anos e não me ligava muito em som), um show onde não precisava de muita química pra reagir ao vibe entre palco e platéia. Finalmente, antes de mandar uma inédita, agora só no trio original, o Hebert se dirige a platéia:

— Agora vamos a um passado mais recente, depois que a cabeça do malandro aqui voltou a ter um mínimo operacional

Parece que o disco tá no forno. O refrão de “Calibre” dizia algo como “eu não sei de onde vem o tiro/ Vivo sem saber até onde estou vivo/ Eu não sei o calibre do perigo”, nada de cabecismos ou rodeios, apenas a direta exaltação do espírito de viver e sobreviver à vida, atirando-se, levando tudo às últimas consequências. Afinal se você não sabe o que o futuro lhe reserva, o que fazer? Temer enjaulado em seu mundinho de paranóias particulares ou atirar-se heroica e corajosamente na vida!? Pra mim é isso, agir de coração e mente sintonizada, sem nada a temer. Só sei que todos voltamos para casa carregando no coração a certeza de ter participado de um show histórico, e eu particularmente me animava mais, visto que salvo o Jorge Israel de câmera em punho no palco, eu era o único que tinha registrado aquilo em Mini-DV...

No dia seguinte, quando tou assitindo o “Up in Smoke Tour” junto com um amigo dos tempos do colégio o telefone toca e é o Lariú, mentor do selo independente “midsummer madness” e peça-chave do núcleo carioca da MTV. Como o cara é um camarada que sempre dá força paras as inciativas independentes aqui no Rio, negociei com ele um acordo justo e na moral por alguns trechos do show, marcando uma reunião pro dia seguinte. Dai eu vou ao encontro do Rabu e vamos entrevistar a próxima vítima do nosso vídeo, o cartunista gaúcho Allan Sieber.

- Cara! Inventei esse papo de 1,99 pra fazer animações sem grana, mas ninguém seguiu o movimento. Bando de cuzão que só pensa em dinheiro... Legal vocês estarem querendo fazer algo parecido em vídeo...

No caso o herege se referia ao meio de produção da Tarja Preta Terrorismo Editorial, que comunga de muitos motes com o manifesto Dogma 1,99, em especial no espírito: VAMOS LOGO QUE EU TOU COM PRESSA! Daí no meio da entrevista o telefone toca!

- Porra! Tu tá perdendo dinheiro rapá! – Era o Zé Felipe, DJ da notória festa A MALDITA, onde ocasionalmente faço umas aparições como Selecta da Fiesta Cucaracha – Acabou de dar a volta do Hebert no RJTV, só que os caras não tinham imagem do show, só umas fotos toscas cedidas pelo Ball Ruim, se tivesse se ligado a tempo, conseguia vender pro RJTV e até o Jornal da Globo…

Puta que pariu, era verdade, como é que eu dou um mole desses? Bem, era tarde demais para qualquer um desses meios, talvez se eu corresse até o Jardim Botânico… Nada disso! O certo a fazer é ir direto na fatia grossa. Qual foi a última vez que eu vi o Hebert na televisão? Sim, foi no FANTÁSTICO o recorde de audiência do jornalismo-entretenimento Brasileiro (a não ser na época que tinham aquela putaria toda rolando na casa dos artistas). A produtora lá da Toscographics consegiu pra mim um telefone da produção do FANTÁSTICO, e lá fui eu discar, atendido primeiro por um sujeito que não se identificou…

- Oi... Err... Meu nome é Matias, eu sou cinegrafista... Tipo assim, filmei ontem um show que teve com o Paralamas ontem. Digo, o retorno do Paralamas, um show surpressa com o Hebert Vianna, o primeiro desde o acidente. Gravei em Mini-DV e visto que no jornal nacional não tinha imagens, só foto, acho que vocês se interessariam em COMPRAR minhas imagen...

- Um momento…

(...)

- Quanto tempo de fita?
- Uns dez minutos…
- A qualidade tá boa!?
- Mini-DV! Tá ótima… é do meio da multidão, mas tá legal… o Audio também tá ótimo.
- Audio e Video ótimos…
- Isso…
- E você quer vender!
- É!
- Por quanto!?
- Bem, isso nos ainda temos que negociar certo!?
- Vou te passar com a pessoa certa pra você falar sobre isso!
- Ok!

No meio tempo resumo a situação pra galera que me acompanhava e pilhava, para ter certza das decisões a tomar. Com a Globo não se brinca!

- Oi, aqui é a Roberta, quem tá falando!?
- O Matias…
- Matias Maxx?
- Sou Eu!
- Sabia que era você… te vi filmando lá ontem!

(???)

- Err… legal… é… Eu te conheço!?
- Você escreve num site né!? Escrevia…
- Eu já escrevi em vários lugares…
- Já sei! Eu fiz assessoria no Humaitá Pra Peixe. Você fez o zine do evento junto com a Pátricia né!?
- Isso!
- Então… é o seguinte! O Jorge Israel gravou o show, e topou ceder as imagens pra gente numa boa. A gente tava só dependendo da autorização do empresário. Mas se você quizer DOAR as imagens a gente também te credita numa boa.
- Peraí! DOAR!? Eu tou quase fechando um negócio com a MTV e vocês me falam em DOAR!?
- É que nós não temos dinheiro… A gente não costuma comprar imagens, não trabalha assim…

Puta que pariu, o FANTÁSTICO que compra documentários, programas e gente de todo o planeta não poderia garantir alguns barõezinhos pra um podre documentárista fudido e sem grana?!? Um Matias Maxx com crises familiares sob o julgamento “arruma um emprego decente ou perde o apê!”. Negar fogo com todas aquelas cotas publicitárias em mãos!? Confesso que fiquei meio puto… Mas não ia deixar isso transparecer pra simpática e amigável chica, de certo quem vetou a grana foi algum diretor, achando que Matias Maxx é moleque…

- Sabe Roberta, na boa, é que eu sou jornalista… Tipo assim, já publiquei no Globo, na Veja, na Showbizz… Pô, não vai ser pro FANTÁSTICO que eu vou trabalhar de graça!
- Entendo… Olha, eu vou ver aqui com meu diretor, me dá seu telefone que eu te retorno…

Mais tarde a muchacha retornou, ainda tentando me persuadir falando a respeito de que eu podia fazer o negócio com a MTV e doar as imagens pra eles, porque eles não são concorrentes diretos, e que meu nome teria uma exposição em todo território nacional. Num dos programas de maior audiência… Pensei em como meu nome no FANTÁSTICO seria bom pra melhorar os conflitos internos dentro de casa. É sempre bom dar pra mãe e avós motivos pra se orgulhar. Mas ao mesmo tempo lembrei da família que tenho e que eles iam me tirar de otário pro resto da vida por ter DADO IMAGENS pra uma corporação. Bah, eu não já falei tanto em atitude!? Aliás, tenho que ter consciência de classe, é foda, todo mundo pensa que artista no Brasil tem mais é que trabalhar de graça até virar fodão. Mas peraí, ninguém aqui é, ou quer ser, Playboy. Ninguém aqui tem apoio de banco ou conchavo com multinacional. Tamos falando de um registro histórico e não de um Fanzine, que você quer mais é que se divulgue. Eu definitivamente não tava afim de doar essas imagens de graça pro arquivo da Globo, para que daqui há uns anos alguém no interesse de fazer um documentário vá pesquisar no CEDUC (é isso mermo?) e COMPRE deles as imagens por mil reais o minuto (é esse o preço, chequei com o pessoal da Tosco, que teve de comprar umas imagens pro “Eu Te Odeio Peréio”). Não… Eu não ia dar o braço a torcer, me desculpei da simpaticissima colega de classe, prometendo ligar no dia seguinte quando todo mundo da produção do FANTÁSTICO esteja por lá e tentar renegociar o babado.

Há um ano atrás mais ou menos, um amigo recém desempregado veio ao Rio pra uma entrevista de emprego; neguinho se amarrou na dele, mas enrustiram o preço, alongaram a reunião e pediram pra ele voltar no dia seguinte. Levei o puto pra balada, uma fiesta cucaracha diga-se de passagem, dai que no meio da madruga ele olha pro relógio, aponta a hora e me diz – Sabe quando a gente tava na tua casa? Tu me mostrou aquela Caros Amigos do Angeli; pois é a revista é um saco, mas lá ele diz uma coisa muito boa, diz que se recusou a fazer um “plim-plim” de graça! Porra de graça só pra fanzine de moleque, pruma corporação jamais!. O Cara voltou pra casa no dia seguinte, ignorando a reunião. Muita gente não deve ter entendido direito e tirado de loki. Mas pra mim o tio foi herói.

Ia ser ótimo descolar uma grana assim. Porque o orçamento todo tá indo embora em fitinhas de Mini-DV a 14 contos na Uruguaiana. Grana que tenho economizado percorrendo altas distâncias a pé e comendo nos picos mais populares possíveis, como o MacLapa, a crise mundial e a porra da copa do mundo fuderam com o trabalho de todo o mundo, mas a certeza de que os bons frutos virão até o verão é certa. Segui meu rumo com o Rabu, subindo as ladeiras de Santa Tereza pra entrevistar o Bernardo Black, vulgo B.Negão, recém chegado da América do Norte e com muitas histórias pra contar. No caminho a certeza de que as coisas estão se desenrolando muito, muito bem… E certamente muito mais coisa boa há de rolar… Dia após dia, minuto após minuto.

Paz!